Caos na saúde

Por Sílvio Ribas

A desorganização econômica e a tragédia fiscal que marcaram o governo Dilma Rousseff impuseram graves sacrifícios à população brasileira, sobretudo à parcela mais carente. Mas é na situação caótica da saúde que temos o resultado mais doloroso desse legado trágico deixado pela presidente afastada.

Para se ter uma ideia, levantamento do Conselho Federal de Brasil informa que o país perdeu quase 24 mil leitos de internação do SUS nos últimos cinco anos. O corte de 2010 a 2015 abrangeu 19 das 27 unidades da Federação e atingiu, sobretudo, as áreas de pediatria, cirurgia geral, psiquiatria e obstetrícia. Em números absolutos, as regiões mais prejudicadas foram o Sudeste e o Nordeste. Só oito estados ampliaram o número de vagas de internação no período analisado.

O recuo no total de leitos 24 horas na rede pública ou conveniada ao SUS, de 335,5 mil para 312 mil, revela deterioração que atinge unidade ricas e pobres da Federação. A retração nos repasses de recursos federais, além do impacto da crise econômica sobre as finanças dos estados, explica essa piora das condições da rede pública de saúde.

A redução de leitos leva ao atraso no diagnóstico de pacientes, logo no início do tratamento. Além disso, muitos ficam em macas nas emergências dos hospitais esperando leito adequado. Sem leitos, os doentes ficam tempo demasiado no setor de emergência, onde ficam expostos a riscos que devem ser evitados. Em paralelo, as estruturas de atendimento dos estados seguem sendo sucateadas.

Esse retrato deprimente é, infelizmente, conhecido de todos nós. E para dar cores ainda mais preocupantes, sabemos que dezenas de milhares de cidadãos migraram nos últimos anos de planos de saúde privados para o SUS.

Em condições precárias, o sistema foi afetado pelo crescimento de usuários dentro do contexto de instabilidade econômica. Só de março de 2015 até este ano quase 20 mil deixaram planos de saúde rumo ao SUS.

E a crescente pressão sobre as unidades públicas de saúde em franca decadência só indica uma coisa: mais sofrimento aos brasileiros desfavorecidos, mais risco de mortes evitáveis e menos oferta e qualidade de um serviço essencial. A terrível combinação de verbas cortadas, avanço das epidemias em todo país e corrida de novos usuários para a rede pública colocou o sistema de saúde no rumo do colapso.

Nos últimos dez anos, os repasses do governo despencaram. O financiamento federal do SUS, que girava em torno de 70% caiu para 40%, exigindo, pois, mais dos cofres estaduais e municipais. Isso tudo quando a pressão inesperada de novos usuários ganhou reforço dos surtos de dengue, de zika, de chikungunya e de diversas gripes e sem falar do envelhecimento da população, que por si só exige mais das políticas públicas.

Outro dado revelado pelo Conselho Federal de Medicina a nos preocupar é o de que apenas 505 das 5.570 cidades brasileiras têm leitos de UTI em estabelecimentos públicos. Ao todo, o Brasil tem quase 41 mil leitos de UTI, sendo que metade está disponível para o SUS e o restante para a saúde privada ou suplementar, que atende 25% da população.

Essa cobertura insuficiente leva, infelizmente, à morte de pessoas que poderiam ser salvas pela simples disponibilidade de um leito de UTI. O que para uns é mera estatística, para muitas famílias é uma tragédia. O fato é que o estado lastimável em que a saúde se encontrava piorou aceleradamente nos últimos anos. Foi nos governos da presidente afastada que o desastre se acentuou.

E as vítimas do descalabro da saúde são, então, os mais carentes, aquele público que a Administração Dilma afirma priorizar. Não podemos nos esquecer dos dramas humanos por trás dos impressionantes números que escancaram o monumental estrago da gestão Dilma na área da saúde, com nítido enfraquecimento da rede hospitalar pública.

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