Onda de lama


Parece piada pronta se não fosse trágico. Mas uma nova onda de lama está mostrando o Brasil real que estava debaixo de nossos pés. O mundo assistiu espantado à tragédia ocorrida no dia 5 de novembro em Mariana, Minas Gerais, com o rompimento de duas barragens de rejeitos da mineradora Samarco. O primeiro impacto foi a destruição de um distrito do município, desabrigando cerca de 530 pessoas e deixando ao menos dois mortos e 26 desaparecidos.
 
Uma das maiores catástrofes ambientais da história de Minas Gerais estendeu seus efeitos a jusante para o Espírito Santo, no curso do Rio Doce até o mar. O tsunami de lama tóxica chegou poucos dias depois ao estado litorâneo, provocando alertas imediatos sobre riscos à sobrevivência da fauna e da flora, à geração de energia hidrelétrica e à manutenção do abastecimento de água para os municípios capixabas de Baixo Guandu, Colatina e Linhares, nesta ordem.

O momento é de unir forças, socorrer vítimas e defender a população ribeirinha das consequências danosas da catástrofe, inicialmente com o monitoramento das condições da água do Rio Doce e com a garantia de seu livre curso até a foz. Os reflexos sobre a saúde dos habitantes e a economia também deverão ser novos desafios a considerar mais adiante. Mas o trágico ocorrido também já deve se converter na oportunidade para se refletir sobre a eficácia dos órgãos federais responsáveis pelo controle ambiental e das atividades minerárias.

Relatórios de procuradores do ministério público estadual e de técnicos de fundações ambientais envolvidas com a renovação de licenças da Samarco apontavam desde 2013 sobre a possibilidade de rompimento das estruturas de contenção das barragens da mineradora.

Quando a lama da barragem de Fundão chegar ao Oceano Atlântico, duas tragédias ambientais estarão se sobrepondo. Uma é a da crise hídrica, que transformou o Rio Doce em um rio sem forças para alcançar o mar. A outra é a da terra arrasada, na qual animais, plantas e seres humanos foram prejudicados pela passagem de um verdadeiro tsunami marrom. Em ambos os casos, o papel dos agentes públicos é zelar pela vida e evitar circunstâncias como as que estamos assistindo. O que antes era motivo de apreensão, com a baixa vazão do rio, agora é motivo de desespero.
 

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