Padrão Dunga

Sílvio Ribas Crescer ou crescer. Não há outra opção a ser buscada pelo país para distribuir renda, gerar empregos e manter as contas públicas no azul senão apresentar crescimento econômico anual médio de 3% ou mais durante um longo período. O mandato da presidente Dilma Rousseff, que será marcado pela expansão medíocre do Produto Interno Bruto (PIB), vai deixar essa verdade cristalina, por mais que a campanha da candidata à reeleição tente escondê-la, dando destaque à evolução dos indicadores sociais e de renda desde a última década. A perspectiva de recessão está cada vez mais concreta e, com ela, avança o pessimismo e a cobrança por mudanças. A principal razão disso está no fato de não mais ser sustentável aquele bem-estar gerado pela combinação de um raro cenário externo favorável aos mercados emergentes com uma política de valorização do salário mínimo, contexto que marcou a vida do país até a crise global. No auge das turbulências, em 2009, o Estado entrou em cena para segurar a peteca, mas o remédio virou veneno. Para completar o quadro de dificuldades enfrentado de forma improvisada pelo governo e que implicará em um brutal ajuste em 2015, o relaxamento com a inflação feriu conquistas históricas advindas do Plano Real. Os reflexos desse pecado são sentidos pela classe trabalhadora menos favorecida, que paga uma cesta básica cara e ainda nutre um crescente temor de não conseguir pagar suas dívidas infladas pelos juros e ainda perder o emprego de uma hora para outra. A indústria minguante, os investimentos engavetados e o mau humor do mercado financeiro deixam claros que o Brasil está levando uma goleada em razão dos seus equívocos. Tal como a centenária Seleção Brasileira, que chorou antes e depois da vexatória desclassificação da Copa do Mundo em casa, a equipe econômica de Dilma só vai entregar os pontos na partida das quartas de final. Contra toda a ideologia que não consegue enxergar a conexão entre carestia e atividade industrial paralisada, uma piada pronta já percorre as ruas. Ela diz o seguinte: depois dos históricos sete gols que levamos da campeã Alemanha, vamos repetir o placar na economia, com 7% de inflação e 1% de crescimento, em percentuais arredondados. Prorrogação A máxima diz que “jogo de campeonato, bola no mato”. Da mesma forma, em ano eleitoral, Dilma deverá preferir fazer jogo mais aberto para evitar a contração econômica, mesmo que isso implique em um Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) rompendo o teto da meta, de 6,5% ao ano. Antes da Copa, a presidente brincou dizendo que seu governo não era padrão Fifa, mas padrão Felipão. Tal como a renovação do envergonhado futebol brasileiro, ela poderá lançar mão nos meses finais de 2014 de um padrão Dunga, com a estatura do anão do clássico Branca de Neve e o temperamento do velho/novo técnico da Seleção Canarinho. Setores do mercado financeiro começam a apostar em redução dos juros básicos (Selic), vendo sinais disso no comunicado Banco Central da semana passada. Mais detalhes na ata do Comitê de Política Monetária (Copom), a ser divulgada na próxima quinta-feira. Mexendo ou não no time que está perdendo, a certeza nas arquibancadas é de que os erros em série foram longe demais. O gasto público não recua, os malabarismos fiscais se repetem e a proteção de setores escolhidos continua sendo mostrada como política industrial. Por outro lado, as mexidas polêmicas no setor de energia não param de gerar prejuízos, a falta de uma maior integração ao comércio global está fazendo falta e os críticos são chamados de terroristas. Fonte: Correio Braziliense de ontem

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