Nos tempos do Orkut

Por Sílvio Ribas A rede social Orkut, lançada em 2004, completou seu nono aniversário mês passado sem nada a comemorar. Sob o impacto de uma fortemigração de seus membros para a rival Facebook, líder absoluta no país e no mundo. Há até pouco tempo atrás, era no antes popular portal de relacionamentos do Google que os brasileiros se encontravam online e agitavam as suas comunidades virtuais. Hoje, a grande maioria dos que fizeram cadastros nesse tipo de serviço gratuito da rede, de todas as classes sociais, mantém presença preferencial na rede de Mark Zuckerberg. Os movimentos repentinos de adesão e de abandono, envolvendo milhões de usuários, são uma característica própria da internet na atualidade, com bilhões de conectados. Mas o dado curioso disso tudo é perceber como a noção quotidiana de tempo também foi atropelada pelas manadas digitais. Outro dia ouvi uma balconista de loja dizendo à colega que conhecia determinada pessoa “ainda nos tempos do Orkut”. Aquilo me deixou parado pensando: como uma virada de página pode ocorrer em menos de uma década e já ser vista como coisa antiga. Esse é o tal mundo de constantes mutações que fez o papa Bento XVI jogar a toalha por não ter condições físicas e espirituais de acompanhá-lo. Rebobinando um pouco mais a fita, percebi com mais clareza como as coisas mudaram e mudam cada vez mais rápido no meio cibernético e, por tabela, nas relações sociais. Conheci pessoalmente o nerd turco Orkut Büyükkökten, funcionário do Google que criou a rede social batizada com seu primeiro nome. Usando camisa florida e jeitão parecido com o personagem Sheldon Cooper, do seriado The Big Bang Theory, ele veio ao Brasil para descobri porque sua ideia se tornou uma mania aqui. “Continuem bonitos”, repetia ele em claro português nas suas palestras e encontros com a imprensa. Analistas acreditam que faltou ao conglomerado da internet investir mais na renovação e na inovação do Orkut. Num piscar de olhos, o Facebook invadia sua praia na rede e, em 2012, o antes preferido dos brasileiros deixou de ser um ícone adotado pelo povo brasileiro para registrar menos de 5% dos acessos nessa seara. Os bons tempos do Orkut deram definitivamente lugar à tríade de curtir (joinha), compartilhar e adicionar. A regra da competição pelos corações e mentes de internautas começa a chegar às demais atividades empresariais e até pessoais. Sem o mote da constante renovação, tudo corre o risco de ficar velho mesmo sendo ainda novo. Será? (Fonte: Correio Braziliense - 14/02/13)

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