Cadeira ocupada


Por Sílvio Ribas

Episódio recente promoveu uma convergência saborosa entre as biografias de dois políticos emblemáticos: o ex-presidente do Brasil Itamar Franco, morto há um ano, e o atual presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. Trata-se de momentos parecidos envolvendo líderes nacionais e os respectivos desafiantes em plena campanha eleitoral. Ambos os casos tiveram grande repercussão midiática apesar de terem ocorrido com a diferença de quase 40 anos entre um e outro.

Semana passada, o candidato republicano na eleição presidencial norte-americana, Mitt Romney, deveria ter sido a estrela da convenção do partido, na Flórida. Mas saiu de lá ofuscado por um astro de Hollywood, que roubou a cena ao “debater” com uma cadeira vazia, usada para representar um ausente Obama. O ator e diretor Clint Eastwood discursou ao lado do objeto inanimado, dando margem a inúmeras piadas e críticas em redes socias e programas de TV.

Em uma espécie de diálogo imaginário, o durão da telona brincou ao zoar com o homem mais poderoso do mundo. O candidato democrata à reeleição foi rápido no gatilho e, em resposta, postou uma fotografia na internet em que aparece de costas, sentado em uma sala de reuniões com assento devidamente identificado pelo cargo. A legenda da imagem: “Esta cadeira está ocupada”. A oposição foi pega de surpresa com o desvio do foco de Romney para o velho batendo boca com um fantasma.

Em outubro de 1974, Itamar disputou pelo MDB uma cadeira no Senado por Minas Gerais, contra José Augusto Ferreira, da Arena. O horário gratuito era ao vivo e Ferreira vivia desafiando Itamar para debater, mostrando uma cadeira vazia. “Não fuja, Itamar”, provocava. Certa noite, quando o locutor do horário político repetia o desafio, o candidato topetudo da oposição invadiu o estúdio da TV Itacolomi, em Belo Horizonte, e se sentou na cadeira. “Vim para o debate”, disse diante das câmeras.

Ninguém entendeu nada, demorando algum tempo até perceber que algo estava fora do script. O apresentador disse que o candidato do regime militar estava viajando. E Itamar destemidamente: “Então vou ficar aqui sentado”. Tudo isso no ar. O senador arenista em disputa pela reeleição correu até o local para encarar o oponente e por pouco o programa não virou arena de luta livre.


Fonte: Correio Braziliense, 6 de setembro de 2012

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