Duília: a saudade que doía






















O maravilhoso conto de Aníbal Machado, que tem passagem na minha Curvelo, é uma eterna inspiração para a nossa nostalgia além de uma bela história sobre o desejo de um impossível resgate da pureza perdida na vida de uma cidade do interior. Aqui está a foto que fiz em companhia de meu pai, Maurílio, há muitos anos, registrando o que sobrou do velho Hotel Rio de Janeiro, onde o protagonista do conto se hospedara antes de prosseguir a sua viagem iniciada na capital fluminense e rumo às origens perdidas na região central de Minas Gerais. No caminho de retorno aos inesquecíveis seios de Duília, o aposentado era dominado por lembranças que mais tarde se tornariam penosas ilusões desfeitas.

Viagem aos Seis de Duília, o filme com o mesmo título do conto, produzido em 1964 e dirigido por Carlos Hugo Christensen, fez as locações nos exatos lugares descritos por Machado. Dá para conferir tudo no Youtube. Considerado um dos 100 melhores contos da literatura brasileira, publicado numa esmerada coletânea, a narrativa é toda uma reflexão profunda sobre questões existenciais da meia idade para adiante. 

O personagem principal do conto empreende sua jornada nostálgica, como o intuito de reencontrar as suas raízes e os seus desejos mais honestos, representados pelos "seios de Duília", a namoradinha que deixou há décadas. Ele tenta retornar ao passado, voltando ao local que considera ser o refúgio ideal dos vazios do momento e o ponto de partida e de chegada para a felicidade verdadeira.

A moral da história é justamente a advertência de que reviver o passado precisa ser algo consciente, com as expectativas realistas. Ao voltar a sua terra natal, bem pra lá de Monjolos e só alcançada no lombo do burro, o protagonista percebe logo que as coisas mudaram muito, e as suas pretensões levaram à terrível decepção. As recordações idealizadas não correspondem à realidade .

A obra, por meio dessa mensagem, nos ensina a seguir em frente, aceitando o passado como parte da jornada e viver o bom do presente. O protagonista aprende que buscar alento no passado pode ser uma armadilha, e que o verdadeiro significado da vida está na aceitação das mudanças e na permanente construção do futuro. O passado faz parte de quem somos, mas não deve ser obstáculo para a felicidade. Amadurecer é aceitar a evolução de tudo.

Comentários

Unknown disse…
Senhor Sílvio, o lugarejo pouso triste ainda existe???
Unknown disse…
O lugarejo denominado pouso triste,existe?
Unknown disse…
O lugarejo denominado pouso triste ainda existe???