Marcas de Curvelo em nós
Lembro como se fosse hoje da festa do centenário. Os céus se abriam em rastro de fumaça, desenhados pela esquadrilha que cruzava o azul profundo. As ruas pulsavam em desfile, no compasso da música e no brilho dos uniformes alinhados.
O orgulho reluzia no rosto de sua gente. E a edição especial de "CN", em formato de revista, guardava aqueles dias como quem embala um tesouro. Meio século depois, Curvelo me chama outra vez para relembrar seus feitos e seus amores.
Atendo ao chamado, listando os marcos que nunca se desataram da mente e do coração, compilados com amigos de infância, no nosso grupo de WhatsApp. Fizemos alguma omissão imperdoável? Talvez. Vejamos nosso Top 10 da saudade.
1. MATINÊ NO CINE VIRGÍNIA - Sob aquelas luzes que se apagavam antes da mágica acontecer, vivemos o encanto do cinema. Mazzaropi, Trinity, Trapalhões e Crocodilo Dundee habitavam o telão, enquanto o baleiro no saguão de entrada era uma atração à parte.
2. CALDEIRÃO DA PRAÇA - A Praça Benedito Valadares, monumental e mística, nos ensinava o prazer do encontro. Entre um sorvete e uma conversa animada, as crianças corriam ao redor do caldeirão, guardião de brincadeiras e símbolo de nossa rica culinária sertaneja.
3. LANCHE NO CLAUDINHO - O tempo pode ter levado muitas coisas, mas o sabor daquele cachorro-quente completo da esquina da Pedro II com a Zuzu Angel permanece intacto até hoje. Na memória era mais do que um lanche; era um ritual de amizade e tradição.
4. GULOSEIMAS DA CIDADE - Havia sabores que Curvelo oferecia bem: sorvete italiano de maquininha, refrescos moldados como brinquedos, balas de caramelo da velha fábrica e o amendoim caramelizado no cone de papel. Pequenas alegrias que adoçavam os dias.
5. HORAS DANÇANTES - O Clube Recreativo Curvelano, entre outros, era o templo dos embalos de sábado à noite. Entre um olhar e outro, entre um passo e um tropeço, a juventude vibrava ao som das músicas que hoje soam como trilha sonora do coração.
6. PRAÇA DE ESPORTES - Ali, entre os jogos de quadra, as aulas de educação física e as disputas das piscinas, aprendemos a celebrar a vitória e a aceitar a derrota. A vida, como o esporte, é feita de quedas e reerguimentos. Saudade.
7. FORRÓ DA PRAÇA - A festa cresceu, mudou de lugar, mas nunca perdeu seu brilho. Da antiga Praça Benedito Valadares à atual Praça da Estação, as barracas enfeitadas e a música contagiante seguem nos lembrando do valor da tradição.
8. FESTA DE SÃO GERALDO - A segunda-feira da pechincha era mais esperada do que o próprio Natal. Comprar brinquedos baratos nas barraquinhas, rodopiar no twister, trombar no tromba-tromba... Era um festival de emoções que nos cativava ano após ano.
9. EXPOSIÇÃO AGROPECUÁRIA - Entre o cheiro de curral e os acordes dos shows, havia algo de especial na Exposição Agropecuária. Os cavalos, os bovinos, a poeira nos sapatos, os primeiros amores em meio aos estandes... tudo fazia parte do ritual.
10. VELHAS CASAS COMERCIAIS - As antigas lojas eram muito mais do que pontos de compra: eram espaços de convivência. “Al” São Bruno, Deja, Dois Irmãos, Mazinho, Levindo, Pão Nosso... Pequenos impérios de histórias que moldaram o comércio e a vida da cidade.
Curvelo, entre as brisas de novembro e os ecos de tantas décadas, continua a ser um refúgio dentro de nós. Seus símbolos resistem, suas lembranças não fenecem. Que venham os próximos 150 anos, mas que nunca se perca a canção suave que só os curvelanos sabem entoar.
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