O galinho do tempo
Ao fechar os olhos e permitir que a mente se perca nas lembranças, sou transportado de volta para as andanças pelas casas de vizinhos e amigos na minha pequena Curvelo (MG), durante os já distantes anos 1970 e 1980. Recordo-me de explorar cantos e recantos, resgatando objetos nostálgicos que se encontravam enterrados não apenas em nosso passado, mas também profundamente em nossos corações.
Já compartilhei aqui sobre as grandes emoções proporcionadas
pelas pequenas coisas presentes nos lares modestos da época. No entanto,
reviver essas experiências torna-se ainda mais palpável quando nos deparamos
com sinais evocativos da mesma nostalgia.
Recentemente, ao adentrar uma vidraçaria, meu pensamento foi
imediatamente levado àquele icônico quadro que simulava uma imagem
tridimensional do rosto do Cristo do filme "Jesus de Nazaré" (1977). Seus olhos pareciam
ganhar vida, abrindo-se enquanto mudávamos de posição para contemplá-lo. Era
algo verdadeiramente divino, e recordo-me de ter visto pela primeira vez um
desses na Relojoaria Diamantina.
A memória também trouxe à tona o encantador bibelô em forma
de galinho, cuja cor podia variar entre o azul e o rosa dependendo das
condições climáticas. Um verdadeiro oráculo meteorológico: rosa indicava tempo
chuvoso e frio, enquanto azul prometia um dia quente e sem previsões de chuva.
Ao lado dele, nas prateleiras da sala ou cristaleiras, lá estava sempre um
caneco de festival de cerveja.
Na cozinha, a galinha de brinquedo da Maggi, que botava ovos
azuis e brancos como ela quando agachada à força, dividia espaço com sonhos de
possuir um relógio do Mickey, com seus dedos apontando para as horas e minutos.
Quem não se assustava com uma Melancia Joaninha, puxada por uma cordinha, com
antenas balançando e olhos esbugalhados?
Em minhas viagens pelo baú das memórias, vejo-me vestido
naquele clássico agasalho azul da Adidas, com suas listras nos braços.
Recordo-me de aplicar Acnase no rosto enquanto olhava para o espelho do
banheiro. Observava alguém pentear os cabelos com Trim ou via meu pai se
barbear com o pesado aparelho de lâminas Gillette, fascinado pelo mecanismo que
se abria ao girar o pino na base.
Na sala ou no quintal, a diversão se desenrolava ao apertar
o botão do Aquaplay ou ao explorar o corpo humano através das folhas de
plástico do volume de saúde da enciclopédia Barsa. Quem não se dedicava a
colecionar as garrafinhas de Coca-Cola e Fanta, com seus pequenos engradados
plásticos? Em algum canto, podia surgir um balde de praia na imponência do
Peixão Rosita.
Pente fino para catar piolho, jogo de pega varetas, frasco
de detergente ODD suave limão, as redinhas plásticas de empilhar laranjas e
mexericas que substituíam as meias de náilon para domar os cabelos rebeldes – a
lista de pequenas maravilhas não tem fim. Nela, incluo itens diversos como a
vitrola de maletinha, os pinos mágicos Elka para montar tudo (como eu adorava
aquilo) e os tijolinhos Xalingo para erguer cidades.
Os bonequinhos para maquete Xaxa eram versáteis, servindo
para tudo, desde trabalhos escolares até brincadeiras e decoração de bolos de
aniversário. Para finalizar, a eterna dúvida: Toblerone ou Suflair? Qual era o
chocolate mais fino e delicioso? Não sei ao certo, mas uma certeza permanece:
sempre tínhamos um Chokito por perto. Obrigado, Nestlé.
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