Curvelo como personagem literário


 Encontrar o nome da cidade natal atribuído a personagens literários foi para mim mais que feliz coincidência. Essa situação inflou meu bairrismo e me induziu pesquisar outras conexões. Além do menino Curvelo de “Conto de Escola” de Machado de Assis e de Vítor Curvelo em “Tragédia da Rua das Flores” do português Eça de Queirós, há a figura ímpar do poeta Artur Curvelo, protagonista de "A Capital", também de Eça.

Nessas três tramas escritas e ambientadas no século 19, a aparição do sobrenome Curvelo, que também batiza o município empoeirado de Minas Gerais, algo místico quer se revelar. O delator Curvelo, que leva o professor a castigar o narrador do conto de Machado, não inspira bons sentimentos nem dentro nem fora das páginas. Mas conduz lição de vida em sala de aula.

Vítor, de “Tragédia da Rua das Flores”, é o protagonista. Bacharel em Direito, formado em Coimbra, exercia advocacia no escritório do doutor Caminha. Vivia com o tio Timóteo em Lisboa, pois fora abandonado pela mãe quando tinha apenas dois meses. Depois sofreria a mesma maldição grega de Édipo Rei.

Em “A Capital”, Artur Curvelo é um jovem escritor romântico e republicano de vida marcada por reviravoltas e tragédias. O personagem está presente em carne e osso, como convidado, na minissérie brasileira “Os Maias”, que adapta romance homônimo do mesmo Eça. Curiosamente, esse Curvelo foi interpretado pelo ator carioca Rodrigo Penna (foto), de fortes raízes curvelanas por parte de mãe. Ele é sobrinho do saudoso ministro João Camilo Penna e filho do cineasta mineiro Renato Santos Pereira.

Assim, essa série de encontros intertextuais e culturais, embora não tenha intenção específica dos autores de associar seus personagens Curvelo à cidade, fomenta ainda mais minha fascinação, oferecendo visões da cidade que extrapolam fronteiras geográficas e temporais. Cada personagem, à sua maneira, contribui para reverberar certa espiritualidade ao nosso chão.

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