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Mostrando postagens de janeiro, 2024

Os sonetos de minha vó

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O s sonetos preferidos da minha avó materna, Sylvia, estavam em um volumoso e antigo livro de antologias poéticas, revestido de um tecido bege engomado e adornado com letras em relevo. Desde a minha infância, eu manipulava aquelas páginas costuradas com afeto, reconhecendo nelas a sua beleza, imponência, valor literário e, sobretudo, a sua ligação com a bela mãe de minha mãe, uma mulher singular para a sua época. Sylvia, mineira da pequena Curvelo, que deixou este mundo no começo de 1939, aos 33 anos, ainda quando a sua única filha era bebê de quatro meses, nutria grande paixão pela leitura e pela escrita de poemas, destacando-se a sua estima por esse compêndio, que acabei herdando. Os vestígios da sua presença e de sua interação com aquela obra se revelavam nas páginas marcadas por pétalas de flores prensadas e fragmentos de folhas pautadas tiradas de cadernos. Trata-se do "Sonetos Brasileiros – Século XVIII-XX", organizado por Laudelino Freire e publicado em 1904 e 1913 pel...

O galinho do tempo

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  Ao fechar os olhos e permitir que a mente se perca nas lembranças, sou transportado de volta para as andanças pelas casas de vizinhos e amigos na minha pequena Curvelo (MG), durante os já distantes anos 1970 e 1980. Recordo-me de explorar cantos e recantos, resgatando objetos nostálgicos que se encontravam enterrados não apenas em nosso passado, mas também profundamente em nossos corações. Já compartilhei aqui sobre as grandes emoções proporcionadas pelas pequenas coisas presentes nos lares modestos da época. No entanto, reviver essas experiências torna-se ainda mais palpável quando nos deparamos com sinais evocativos da mesma nostalgia. Recentemente, ao adentrar uma vidraçaria, meu pensamento foi imediatamente levado àquele icônico quadro que simulava uma imagem tridimensional do rosto do Cristo do filme "Jesus de Nazaré" (1977). Seus olhos pareciam ganhar vida, abrindo-se enquanto mudávamos de posição para contemplá-lo. Era algo verdadeiramente divino, e recordo-me de...

Curvelo como personagem literário

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  Encontrar o nome da cidade natal atribuído a personagens literários foi para mim mais que feliz coincidência. Essa situação inflou meu bairrismo e me induziu pesquisar outras conexões. Além do menino Curvelo de “Conto de Escola” de Machado de Assis e de Vítor Curvelo em “Tragédia da Rua das Flores” do português Eça de Queirós, há a figura ímpar do poeta Artur Curvelo, protagonista de "A Capital", também de Eça. Nessas três tramas escritas e ambientadas no século 19, a aparição do sobrenome Curvelo, que também batiza o município empoeirado de Minas Gerais, algo místico quer se revelar. O delator Curvelo, que leva o professor a castigar o narrador do conto de Machado, não inspira bons sentimentos nem dentro nem fora das páginas. Mas conduz lição de vida em sala de aula. Vítor, de “Tragédia da Rua das Flores”, é o protagonista. Bacharel em Direito, formado em Coimbra, exercia advocacia no escritório do doutor Caminha. Vivia com o tio Timóteo em Lisboa, pois fora abandonado...