Fon-Fon! O padeiro chegou!

A nostálgica melodia da buzina ecoava pelas ruas de Curvelo nas tardes dos anos 1970 e 1980, anunciando a chegada do pão quentinho e saboroso. Cristiano, o carismático padeiro, com a sua bicicleta que mais tarde deu lugar a uma robusta Vespa, oferecia um serviço que combinava qualidade, conveniência e preço acessível. A rotina dos moradores consistia em aguardar ansiosamente a apitada da buzina, momento em que minha mãe, a empregada e a criançada corriam até o portão de ferro para receberem os deliciosos pãezinhos de sal e doce, e às vezes, agraciados com bolos, roscas e broas.

As ruas de minha cidade natal ainda calçadas de pedra testemunhavam essa tradição, e a fidelização da clientela era uma certeza, afinal, a qualidade do pão de Cristiano era inigualável. Com seu jeito simples, trajando calça jeans surrada, camisa de malha barata, jaqueta de couro e boné, o padeiro estacionava sua bicicleta, moto ou Fusca, dependendo da época, carregando centenas de pães cuidadosamente acomodados em um balaio grande de vime, forrado com toalha de mesa xadrez. Ao ouvir a buzina de borracha, todos sabiam que os assados cheirosos aguardavam.

As compras eram anotadas em um caderninho, e a conta era acertada no fim do mês, confiando plenamente na honestidade do padeiro e na relação próxima com os clientes. Com o tempo, Cristiano expandiu seus negócios, tornando-se fabricante de biscoitos, e a Kombi abarrotada de pacotes de papa-ovo e roscas de polvilho azedo gigantes substituiu o antigo meio de transporte, o que não afetou a alegria e a expectativa que seu característico "bi-bi" trazia às casas da região.

Hoje, a rotina mudou, e o comércio a domicílio do padeiro de outrora é uma bela memória de tempos passados. Inesquecível e incomparável. A modernidade trouxe outras conveniências, mas a nostalgia persiste ao ouvirmos uma buzina de borracha, nos levando de volta a momentos de simplicidade e de sabores que colhíamos com carinho para dentro do aconchego de nossos lares, Fon-fon!

PS: Essa minha reminiscência está registrada no livro Passos Nus (Clube de Autores).

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