Bono Vox 114 está chegando!

 

Ao assistir A Máquina do Tempo (2002), há 20 anos, fiquei impactado com o personagem Vox 114 – um avançadíssimo sistema de inteligência artificial (IA) da Biblioteca de Nova York, num futuro próximo. Na superprodução americana de ficção científica, dirigida por Simon Wells e inspirada no romance homônimo do seu bisavô H. G. Wells, de 1895, o bibliotecário holográfico gerado por painéis de vidro interage com as pessoas como se pessoa também fosse. Solícita para qualquer indagação, a criatura virtual interpretada por Orlando Jones, diz ter “todo o conhecimento humano”.

O programa de computador (bot) adicionado a esta adaptação do livro clássico me parecia à época uma versão evoluída do nosso velho e bom Google. Mas com o surgimento recente do ChatGPT – um AI bot ou chatbot treinado para responder quase instantaneamente e de forma humana às questões que lhe são colocadas –, creio que a empresa responsável por ele, a OpenAI, pode ter avançado mais objetivamente no rumo daquele modelo retratado na telona. A ferramenta que emula diálogo desperta receios sobre seu uso inadequado e ameaça profissões com um leque ilimitado de possibilidades.

O ChatGPT é uma variação do modelo linguístico Generative Pre-training Transformer (GPT), que tem a capacidade de gerar texto semelhante ao escrito por gente. O holograma inteligente imaginado por Wells bisneto dá um “corpo” e uma personalidade à terceira geração de sistema voltado à ciência da informação, com a missão de disseminar informação e realizar busca de dados. Na ficção, Vox, graças a baterias nucleares, “sobrevive” nas ruínas da biblioteca por 800 mil anos, para falar da humanidade aos seus remanescentes. Steven Spielberg mostrou algo parecido em IA (2001).

Será que veremos então um Vox 114 antes de 2030? A realidade está a confirmar as previsões de Hollywood? A corrida do Google e outras gigantes da tecnologia, como Microsoft, para investir em sistemas como o ChatGPT sinaliza para uma rápida assimilação dos oráculos digitais. As conversas online com sistemas sabichões são novidades plenamente previsíveis e que se juntam a outras da polêmica IA generativa. A linguagem apropriada pelas máquinas dos tempos atual e futuro desafia a criatividade de artistas e o divã de psicanalistas. E a prerrogativa de perguntar é nossa última reserva.


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