As seis alças do caixão


Sílvio Ribas

O título deste texto soa mórbido, admito. Mas a minha intenção aqui é falar justamente do contrário da morte, quero enaltecer a vida, a alegria de viver e a importância de cultivarmos bons relacionamentos ao longo da nossa breve existência. Quero enfocar os maravilhosos amores correspondido dos amigos, familiares e demais inquilinos do nosso coração, conquistados ao longo do período em que respiramos.

O convívio social, o pertencimento a uma comunidade e o aconchego do lar desfrutado junto com entes queridos são indubitavelmente o melhor que a trajetória vital nos proporciona. Personagens e momentos extraídos dessas experiências e que nos foram e continuam valiosas são tudo o que vale à pena levar para a eternidade.

É daí que veio a minha motivação para lembrar da imagem das seis alças do vindouro caixão. São essas peças que me assaltam hoje com uma pergunta a martelar minha mente. Quais seriam as pessoas que me terão no pensamento e ficarão realmente pesarosas com o meu passamento? Quais delas seriam as mais voluntariosas para me levar pela mão ao ponto final?


Esses seis indivíduos em particular, presentes à despedida de meu corpo presente, representariam o saldo líquido das minhas relações terrenas. No evento futuro, imprevisível e inevitável desse último adeus, a cruel questão a me desafiar é especular nomes para obter o balanço do que terei colhido ao fim dos meus tempos. Estando em mais da metade de uma possível jornada, a ideia me induz a cuidar melhor do coração (nos dois sentidos).

Quem encontra um amigo, encontra um tesouro. É a mais pura verdade. São eles a nos consolar, apoiar e nos recolocar de pé. Também são aqueles cujas lágrimas por nós vertidas trarão o melhor sentido para o que fizemos ou deixamos de fazer. Outra máxima ensejada por essas linhas, a de que caixão não tem gaveta, completa a reflexão, ao nos ajudar a conectar à realidade mais crua de todas: não se leva nada de material dessa vida.

Uma amiga me disse uma inspirada frase que guardo até hoje: a nossa vida são os amores que vivemos. Isso é, sim, o valor real e imaterial a contabilizar e a se agradecer derradeiramente no viver. Espero apurar uma meia dúzia de punhos de uma meia dúzia de almas para me conduzir no cortejo até a cova. Para isso não posso me descuidar nenhum minuto daqueles que quero muito bem.

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