Memórias de liquidificador

Resolvi abrir e enxugar minha caixinha de objetos memoráveis. Lá hibernava por anos coisinhas várias com função de fazer recordar, desde dois porta-vale-transportes até os meus primeiros relógios de pulso, além da minha dupla dinâmica preferida: um par de bonecos de borracha de Batman & Robin, que enfeitaram o bolo de meu nono aniversário. Vejo que esses bravos heróis de brinquedo escaparam, muito machucados, das dentadas do cãozinho Kojak, de Dona Arminda Marques. Sem recorrer a qualquer metodologia especial, pus-me a relatar o que encontrei na suitcase of memories (como canta Cyndi Lauper em Time after Time). Lembrancinhas de viagens, suvenires do centenário de BH e “munição” de campanhas eleitorais. Presentinhos de aniversário, duas medalhas de honra ao mérito (um concurso de redação e outro do futsal dos calouros da PUC Minas), substitutos idênticos de brinquedos da minha infância mais primitiva (o Falcon fake e aquela zebrinha que se dobra toda sobre o pedestal). Variados bibelôs de mesa, como tatuzinhos de pedra sabão, recuerdos mil de visitas a fábricas, gifts corporativos como canetas diferenciadas, óculos 3D para assistir filmes e o disfarce clássico de óculos com nariz e bigode. A dentadura de Drácula, chaves de apartamentos e locais onde trabalhei (tem até uma com a inscrição “portão principal”). Tem também relíquias de santos italianos e líderes da falecida União Soviética. Alça para segurar canecões de cerveja da Oktoberfest blumenauense. Tampinhas de garrafa com estampas promocionais diversas e uma tampa de rosca prateada de geléia francesa. Nada melhor pra guardar? Artefatos do folclore açoriano de Floripa. Uma rolha de Miolo Seleção – meu vinho preferido. Duas fotos 3 por 4: uma de mamãe e outra da amiga Paty. Medalhinhas de minhas tias-avós ultra-católicas. Mais Batman & Robin em apontadores de lápis, frascos de candies e miniaturas. Canequinho de lata esmaltada (iguais aos da infância de tanta gente), dados verdes para jogar dados, dois pares de lentes de contato de silicone esverdeado, com seus respectivos estojinhos. Uma preservada garrafa-anã de Coca-Cola que encontrei como arqueólogo nos restos de materiais de construção depois de uma reforma. Devia estar sob o piso. Bandeirinhas em papel brilhoso do Brasil e da Itália com seu respectivo suporte comum. Uma das oito figuras de um móbile que fiz no primeiro grau, uma borboleta colorida. Botons do Galo e do Partidão. Tinha também outras coisinhas do Atlético, uma penca de chaveirinhos e um duende barbudo (e intrometido). Figuras de origami de Alexandre, irmão de Dudley Ferrari. Uma cabeça de ET anti-estress (de borracha mole, verde, para amassar na mão). Um pires de saquê. Uma peça de campanha cutista. Aliás, três. Cristais decorativos, moedas de outros países e outras datas comemorativas. Um Pinóquio de pau que se dobra todo, igualzinho à zebrinha de plástico. O trouxe da Itália. Enfeites natalinos de porta, dois dispositivos sonoros de cartões de Boas Festas ainda com bateria boa e tocando jingle bells se der contato, pedras nada preciosas. Na caixinha de lembrança dormia muita saudade. Dos tempos inocentes. Das fases engajadas. Das paixões colecionáveis. Dos sonhos que cabiam no bolso. Estamos no ano 2004 da Era Cristã. (OBS: Essa cápsula do tempo foi aberta em 2004)

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