Preço das ideias


Por Sílvio Ribas

A Novo Nordisk, líder mundial no mercado de insulina, anunciou semana passada que se prepara para realizar o maior investimento do setor farmacêutico no País. A decisão foi comunicada logo depois do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), do Ministério da Justiça, ter autorizado a incorporação pela multinacional dinarmarquesa da Biobrás, de Montes Claros, no Norte do Estado. O processo de avaliação da compra da maior fabricante brasileira do medicamento dos diabéticos levou um ano e meio. Sérgio Noschang, vice-presidente da Novo Nordisk para a América Latina, lembra que essa foi a primeira vez que foi respeitado o contrato de irreversibilidade, na qual a análise de concentração de mercado obrigava a compradora a administrar a comprada sem efetuar mudanças estruturais e atuando como duas entidades separadas, de modo que a união pudesse ser desfeita.

Essa história representa para alguns a vitória do capital estrangeiro sobre a inovação tecnológica brasileira, com a incorporação de uma pequena promissora por uma gigante já bem estabelecida. Mas é claro que só se trata de uma redivisão de tarefas. Outras idéias boas, como a da Biobrás, vão surgir no rastro dessa e se candidatar a tomar corpo com investimento de terceiros ou indo para debaixo de um guarda-chuva maior. Os empreendedores que pretendem criar uma empresa de base tecnológica começam a ter uma nova alternativa de financiamento, além dos tradicionais empréstimos bancários. Trata-se dos fundos de capital de risco, dispostos a apostar em empresas emergentes ou em idéias com potencial para se transformar num empreendimento lucrativo, de informática, tecnologia da informação, telecomunicações e biotecnologia.

A história agora promete ser diferente da assistida três anos atrás, no período da chamada bolha especulativa da internet, quando os fundos de venture capital (capital de risco) saíram mundo afora comprando simples rascunhos na tela de computador por centenas de milhões de dólares. Criada em junho de 2000, a Associação Brasileira de Capital de Risco (ABCR), reúne 62 associados, dos quais 14 são fundos de capital de risco. Dados da própria ABCR revelam que esses investidores representam recursos estimados por baixo em mais de US$ 4 bilhões.

Os investidores de capital de risco fornecem, além do dinheiro, experiência, contatos e assessoria, quando necessário. O objetivo é ajudar a empresa investida a crescer e competir. Depois de cinco a seis anos, eles vendem a parte deles e recuperam o capital, com lucros. A maioria não assume atividades executivas no dia-a-dia da empresa. Exemplos? Votorantim Ventures, do Grupo Votorantim, criado em maio de 2000, com capital de US$ 300 milhões. Outra é a Alellyx, fundada em Campinas, em março deste ano, por pesquisadores financiados pela Fundação de Amparo à Pesquisa de SP (Fapesp).

O mais novo fundo desse grupo é o Fir Capital Partners, justamente tocado por Guilherme Emrich, um dos fundadores da Biobrás. Ele vem agregar com mais US$ 45 milhões os instrumentos já disponíveis, como private equity (fundo fechado de investimento), venture capital (capital de risco) e securitização de recebíveis (transformação em títulos/contas a receber), importados de outros países. Os fundos de estatais também caminham para este lado. Quem se habilita?

Fonte: jornal ESTADO DE MINAS - 10/08/2003

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