Reportagem publicada há tempos

Vida brasileira

O orgulho de Felipe Voigt floresce no meio de um bananal em Schroeder (SC), pequena cidade de fortes raízes alemãs e 10 mil almas. Um dos pioneiros que modernizaram a bananicultura no Vale do Itapocu, conquistando a maior produtividade do País, o produtor continua plantando idéias na atividade que escolheu para realizar-se.

Ao contrário dos quatro irmãos, optou logo cedo pela agricultura. Começou aos 13, trabalhando nos 10 hectares da família. Hoje, 27 anos depois, lidera 15 empregados e más 18 produtores integrados. "O cultivo está amparado em tecnologia, os produtos são competitivos e o comércio sem intermediários garante retomo mensal, como qualquer empresa", resume ele as razões do sucesso da banana na sua terra.

No clima úmido e temperado do nordeste catarinense a cultura da fruta tropical tomou-se referência por técnicas batizadas de "manejo da qualidade" e estratégica na conquista de mercados nacionais e do Mercosul. Santa Catarina, terceiro produtor do País, está longe do primeiro, a Bahia, mas ameaça a vice-liderança de São Paulo, afetada por enchentes no Vale da Ribeira nos últimos dois anos. Pedidos domésticos e externos para aquela região já foram atendidos pelos catarinenses.

Hoje, 5% da produção do estado vai para Uruguai e Argentina. Em 1997, 5 mil famílias colheram 532 mil toneladas em 32 mil hectares. As propriedades têm em média 8 hectares. O forasteiro só percebe ter chegado em Schroeder pelas placas das lojas ou pelos bananais.

Estão em toda parte, sem cercas ou muros, e com seus cachos curiosamente envolvidos por sacos plásticos. Compreendida entre os dois maiores pólos industriais do estado, Joinville e Jaraguá do Sul, o município tem 1,2 milhão de pés de banana que produzem 38 toneladas anuais por hectare ou 1,26 milhão de caixas. A atividade envolve 150 famí-lias em 750 hectares, onde trabalham 600 bananicultores e 200 empregados. A indústria da fruta emprega mais 300.

Em 1994, Voigt e outros 11 produtores da região visitaram o Equador, maior produtor mundial de frutas tropicais, em busca de conhecimento. Introduziram técnicas simples mas de efeito revolucionário como proteção da banana no pé e transporte dos cachos por cabos aéreos (como teleféricos) até as casas de embalagem, elo entre o bananal e o caminhão que sai da propriedade.

Tais cuidados visam a integridade do produto, reduzindo impactos a partir da colheita. "Até mesmo o mais humilde já pensa em mecanizar ou adotar manejo ecológico. O mercado está cada vez mais exigente e não temos grandes escalas que dêem folga para selecionar apenas a parte boa para vender", diz.

As casas de embalagem surgiram para garantir a qualidade das bananas na caixa depois de colocadas no caminhão. As 40 unidades na região servem para dar valor agregado.
Juntamente com Rolando Schulz e Geraldo Prust, Felipe Voigt compõe o trio dos maiores bananicultores de Schroeder. Schulz inaugurou o cabo aéreo, seguido de Prust
"Vou deixar o cabo para mais adiante. Estou priorizando a irrigação", diz o schroederense, Voigt com o sotaque germânico que herdou dos avós imigrantes, paternos e matemos.

Ele participa de seminários e cursos sobre a atividade, coordena os trabalhos de seu grupo de produtores - formado na base da confiança mútua sem contrato - mas sem nunca tirar o pé da plantação. "Não me sinto ainda 100% realizado. Sou feliz por ver o que meu suor fez a partir do nada", orgulha-se. De sua casa de embalagem saem periodicamente caminhões para clientes; fixos em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Os uruguaios e argentinos são compradores eventuais. A maior vantagem aos integrados, diz ele, está na igualdade de condições para produzir e comercializar com preços bons para 45 a 60 toneladas por hectare/ano.

Os próximos passos de Voigt continuam graduais e estão traçados na mente: continuará investindo em tecnologia na produção e espera verticalizar a produção com uma fabriqueta de doces ou passas. Seus dois filhos mais velhos, de 23 e 19 anos, já trabalham na agricultura e o caçula, de 12 deverá atuar mais tarde na área administrativa. "O menino gosta de computadores", conta.

José Demark, agrônomo da Epagri - SC em Jaraguá do Sul, diz que as lavouras da região ganharam impulso em 1992, quando foi construída a primeira pista de aviação, que permitiu pulverizar os bananais. "Hoje, 80% dos produtores usam o método". Os cursos profissionalizantes na estação experimental de Itajaí (SC) também ajudaram. Nele, pesquisadores do Epagri repassam conhecimentos técnicos e gerenciais aos agricultores em 40 horas de aulas práticas. Pouco mais de 300 já foram capacitados.

A tendência do agroecológico ou biodinâmico também reflete na região. "O consumidor quer mais que aparência. Por isso, gradualmente os bananicultores irão produzir com menos agroquímicos", diz Demark. Para ele, o uso de caminhões frigorificados; deverá entrar em cena para ajudar a competir com o Equador nas exportações para o Mercosul e as associações de produtores vão aprimorar suas redes de comercialização. Paralelamente, a indústria da banana instalada na região avança na diversificação de suas linhas.

Fonte: Sílvio Ribas / Gazeta Mercantil - SP / 09/12/98 / pág. B-20


PS: Uma curiosidade que descobri há pouco tempo é que o meu entrevistado virou prefeito da cidade anos mais tarde.

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