Anatomia do sertanejo dos Gerais
Morada de ideias fresquinhas e lembranças defumadas, a cabeça do sertanejo não para. Como casinha de João-de-Barro, feita de precisão e persistência, nela vivem pensamentos inquietos, lendas e conselhos.
Seus braços são ferramentas de força bruta e ternura, como enxadas que rasgam a terra seca em busca do fértil ventre. São também ripas de cercas ao redor dos afetos, protegendo o seu tronco e o seu sagrado.
Quando se erguem, mãos despontam desses membros desatando nós da angústia, como que destocando raízes profundas do chão árido. Calejadas e vigorosas, encontram na dureza da lida a suavidade dos gestos gentis.
No peito, um tacho de cobre mistura os ingredientes mais sublimes da vida – amores, esperanças, sonhos. Lá são amassados, aquecidos em alma ardente, crescidos na generosidade e, por fim, servidos a todos.
E os pés? Companheiros fiéis de longa caminhada, são firmes e decididos como as mulas que cruzam veredas tortuosas do sertão. Eles conhecem caminhos pedregosos, subidas, descidas e campos em flor.
Nas costas, o sertanejo carrega o peso de responsabilidades: o labor e o sustento dos seus. O tempo passa e elas se curvam perante o pesado fardo, mas também meninos que sobre eleitas montam na hora lúdica.
Olhos e ouvidos são portas abertas à sabedoria. Cada som, cada cor e cada palavra toca ao íntimo como cântico antigo, vertido em atos, falas e silêncios cheios de signos. Os lábios comprimem sabor. Fim.
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