A sabedoria dos ossos
Se tomarmos o corpo humano como livro de sabedoria, encontraremos nos ossos as suas páginas mais inspiradoras. A complexa montagem estrutural do vertebrado mais famoso carrega funções e sugere significados. A meu ver, a maior e a menor dessas peças – o grande fêmur e o pequenino estribo – servem de metáforas para a bela jornada da vida.Em pessoas de 1,8 m, o fêmur apresenta cerca de 50 cm. O estribo, localizado na orelha média, tem cerca de 3 mm de comprimento e pesa em torno de 3 mg. Ao explorar a missão específica de cada um desses dois ossos, saquei umas coisas.
O osso da coxa, primeira clava dos homens pré-históricos, ilustra o impulso para ir adiante, o movimento e o progresso. A capacidade de caminhar pede experiências e constante avanço. Ousadia.
Por outro lado, o ossinho mais singelo ressalta a importância do ouvir, não apenas como ato físico, mas também o saber prestar atenção às mensagens que o mundo nos envia. Humildade.
Junto com o martelo e a bigorna, ele forma o trio de ossículos essenciais para a transmissão das vibrações sonoras do tímpano para o ouvido interno, permitindo a audição. Na cavalaria, estribos são acessórios essenciais para montar e cavalgar com segurança. O cavaleiro coloca os pés neles para obter apoio e estabilidade.
Nobres são as razões de ser de cada osso, desde os que formam a caixa craniana, a guardar o cérebro, até a caixa torácica, que abraça o coração, passando pelos membros. O quadril, onde o fêmur se articula, conecta membros superiores e inferiores. Seus ossos se abrem para a mulher dar à luz.
A matriz óssea, último vestígio do corpo que viveu, tem outros simbolismos. A essência do esqueleto, que transcende o tempo, faz dele testemunha silenciosa de um ente vivido, um registro final de passagem pelo mundo. A ingestão de cálcio fortalece o edifício que cresce enquanto é possível. O branco do cálcio e do osso é a cor síntese de todas as cores. Jazemos todos iguais, não importa raça, origem, credo ou condição social. Como nos lembra a Capela dos Ossos, em Évora, Portugal: “ossos que aqui estamos pelos vossos esperamos”.
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