Vodca, mentiras e corrupção
A ficção do cinema e a realidade nas manchetes dos jornais geram suspense aos espectadores nas suas respectivas evoluções, com seus vilões ardilosos e heróis marcantes. Outros aspectos em comum entre elas são o papel das redes sociais na mobilização social a partir de fatos revelados e as verdades absurdas que todos ao menos desconfiam, mas aceitam “normalizar”.
O filme do herói mascarado, que até insinua um tráfico de mulheres russas, algo que rola desde o fim da União Soviética, tem como principal pano de fundo o corrompimento profundo da democracia e do sistema legal. No império do novo czar, essa degeneração tem décadas e coleciona fatos que vão do envenenamento de inimigos ao comércio clandestino de armas.
Mesmo com argumento geopolítico sólido, o de querer barrar o avanço das forças do Ocidente em suas fronteiras, o presidente Putin comete mais um crime com a condenável invasão russa à Ucrânia. Não deu para normalizar mais essa, após o mundo saber que ele e seus oligarcas lavam fortunas em times de futebol, atacam bancos de dados de instituições e escondem dinheiro na Suíça.
O blockbuster dirigido por Matt Reeves explora, por sua vez, com cores bem fortes as relações espúrias entre público e privado e até onde elas podem chegar. As verdades do passado mascaradas não conseguem se sustentar muito nos tempos interligados, mas podem estes mesmos tempos dar à mentira um poder jamais antes visto graças à assustadora velocidade, ensina o vilão Charada.
Que o mundo consiga enfrentar os corruptos sem precisar de alguém à margem do sistema, como o Batman da ficção. A política precisa produzir respostas para acabar com os males da política e apenas a dominância da lei impedirá que as trevas da guerra e da ditadura se associem ao cinza da corrupção normalizada. A ressaca da vodca nem sempre é uma questão da marca da bebida.
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