Construtores da nova ordem global

Especialista vê nas reformas propostas por Obama e Gorbachev a esperança coletiva de renovação econômica e política e a tentativa de superar conflitos pela via pacífica

Comparações entre personagens históricos são sempre temerárias, ainda mais quando vivem em conjunturas distintas. As várias aproximações entre o último líder da União Soviética, Mikhail Sergeyevich Gorbachev, e o atual presidente dos Estados Unidos, Barack Hussein Obama, não poderia fugir a essa regra. Mas para Túlio Sérgio Ferreira, mestre em relações internacionais pela Universidade de Brasília (UnB), esse exercício pode ser até útil à reflexão sobre o “processo histórico que nos traz ao momento contemporâneo”. Assim, apesar de mais de duas décadas separarem as ascensões dos dois, muitos temas de então, acredita o especialista, ainda permanecem.

Ferreira lembra que Gorbachev assumia em 1985 um “império” em franca decadência econômica, política e ideológica. “Sua ação refletia o pensamento daqueles que pretendiam romper com a estrutura política gerontocrática e com a planificação econômica que explicitava seus limites”, explica. Neste sentido, formam-se os rótulos Glasnost (transparência em russo) e Perestroika (mudança) para atender, respectivamente, às demandas de reforma política e econômica. O tempo era de acirramento da guerra fria, ditado pelo belicismo espacial da gestão Reagan (EUA).

O mundo capitalista buscava reerguer-se da crise vivida nos anos 1970 via retomada dos ideais liberais que eram propagados com intenso ímpeto salvacionista no mundo ocidental. “Neste ambiente, a ação de Gorbachev encaminha, intencionalmente ou não, para a superação pacífica da tensão que levara o mundo à beira do auto-extermínio. A conformação da estrutura bipolar do sistema internacional chega a um fim dramático”, comenta o professor.

Corrida de obstáculos
Obama, 2009. A pose do primeiro presidente afro-americano é marcada igualmente por esperanças de renovação, “anseios que sempre devem ser temperados pela cautela de se saber que só a ação do homem de Estado é insuficiente para mudanças radicais nas estruturas da sociedade internacional”. Assim, “as promessas moralistas de paz seguem o curso profundo das ideias moralizantes da política externa da Casa Branca”. A superpotência solitária vencedora da guerra fria está combalida por sucessivas crises econômicas. Parece enfraquecida, mas “ainda guarda inigualável capacidade militar e influência na gerência do sistema financeiro internacional”. Esse é o tempo (e a contingência) de Obama.

Gorbachev e Obama compartilham a característica de transitar nas águas turbulentas de um sistema internacional em busca de reordenação. A virtude de cada um em responder às demandas políticas será avaliada pela história. “O líder soviético, mesmo sendo destituído do poder, deixou sua marca como aquele que ousou iniciar as reformas. Obama proclama que pode. Será?”, indaga Ferreira.

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