Postagens

Mostrando postagens de junho, 2025

Orgulho geodésico

Imagem
  Sílvio Ribas   O mapa do tesouro da mineiridade marca um X no solo de Curvelo (MG). Por décadas, os filhos e amigos da cidade souberam para onde apontar quando falavam do “centro geodésico” do estado. Ao lado direito da entrada da Igreja da Imaculada Conceição, no bairro Tibira, havia um bloco de concreto que indicava um especial ponto de Minas Gerais estudado por geógrafos, agrimensores e cartógrafos. Aquele dado técnico era também patrimônio dos curvelanos, cultivado com fervor. A marca simples, que poucos olhos de fora notavam, estava bem guardada na memória daquela gente e a enchia de orgulho. O ponto de convergência do grande território mineiro virou reportagem na TV e publicidade da Prefeitura e do comércio local. Poética e oficialmente, o município adotou a alcunha de coração do estado. O tempo passou e o marco provisório deu lugar a um monumento mais elaborado, de traço moderno, dividido com o jardim lateral da igreja. Com arco e setas, o símbolo novo visav...

A vida não cabe num prompt

Imagem
Sílvio Ribas A última cena de Inteligência Artificial (Artificial Intelligence: AI,  2001), dirigido pelo genial Steven Spielberg, é uma daquelas que ficam conosco — não só pela beleza, mas pelo comichão existencial que produz. O mundo humano se extinguiu há milênios. Tudo o que restou foi um menino-robô, testemunha solitária da fragilidade e da grandeza do que fomos. À sua frente, uma forma avançada e alienígena de inteligência tenta compreender a espécie que desapareceu. Coube à IA  exalar aquilo que foi humanidade. Essa imagem ficcional nos remete à realidade do presente. Desde 2024, assistimos à expansão acelerada da IA no cotidiano com espantosa naturalidade. Abrimos as portas de nossas casas, corações e mentes às máquinas que aprendem, simulam e respondem com rapidez inquietante e cada vez mais precisão. Passamos a conviver com textos, imagens e vozes que não vêm de seres vivos, mas de comandos — prompts, como se convencionou chamar. E quando o mundo começa a ser de...