Sobre assessoria em RIG/Relgov
Entrevistado por alunas de um curso de graduação em Relações Públicas de São Paulo sobre a minha atual condição profissional, fiz o seguinte depoimento.
Sou jornalista há mais de 30 anos e, nos últimos sete, tenho me dedicado à área de relações institucionais e governamentais, também conhecida por RIG ou Relgov. Essa minha incursão se deu após eu ingressar, como servidor comissionado, no Senado Federal, assessorando dois parlamentares. Formei-me em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo, em 1991, pela PUC Minas. Ao migrar para a assessoria parlamentar, naturalmente busquei me capacitar em RIG, na perspectiva de ampliar meus horizontes para áreas como lobby e análise de conjuntura política ou regulatória. Por isso cursei o MBA de Relações Institucionais em 2017, pelo Ibmec-DF.
Pensava em ir para a área de assessoria governamental? Se sim, por quê?
Sim.
A larga experiência como jornalista com foco em coberturas de economia e
política me animou a buscar novas oportunidades profissionais, tais como a de
assessor parlamentar ou governamental e, ainda, analista de cenários de
conjuntura e estrategista.
Com vê os campos de atuação em Relações Públicas Governamentais?
As
atividades de relações institucionais, ou seja, aquelas estabelecidas entre os
mais diversos atores da sociedade civil e os agentes dos poderes Legislativo e
Executivo e que devem ser públicas e transparentes, têm um amplo e variado espectro.
A razão disso é que elas são parte do necessário diálogo nas democracias
modernas, pois permitem que os variados grupos de interesse expressem as suas
demandas e influenciem a tomada de decisão de governantes e legisladores. A
sociedade tem o direito de manifestar seus interesses legítimos, embora essa
mesma atitude possa ser confundida com interferências indevidas na governança
de órgãos públicos, na regulação de setores econômicos, na elaboração das leis
e na ação governamental. Lobby não é tráfico de influência, embora os dois
conceitos sejam intimamente associados pelo senso comum. Relações entre poderes
e destes com o público em geral são, em princípio, lícitas e desejáveis. Os
desvios que possam ocorrer são de ordem moral e criminal e assim devem ser
encarados. Quanto mais ampla e aberta for a conversa entre empresas, cidadãos,
entidades e autoridades, mas vigor tem a democracia, reforçando a participação
da sociedade na vida nacional.
Qual é a sua percepção sobre a função do RP na mobilização social?
A
mediação do diálogo entre atores de postos de poder e de interesses diversos ou
mesmo convergentes é um ofício de profissionais de relações públicas. Mas,
diante de contexto cada vez mais marcado pela mediação digital dos discursos em
redes sociais, esta mesma missão profissional ganha novos contornos, mirando o
envolvimento de grupos de opinião ainda mais díspares e difusos, agregados
circunstancialmente no ambiente cibernético. O engajamento percebido nessas
circunstâncias também é um dos alvos atuais do RP, seja como estratégia de
convencimento, seja como forma de tornar posturas e bandeiras do assessorado reconhecidas
e seja para atrair apoio extra para personagens e entidades.
Quais foram os principais desafios e curiosidades de sua carreira?
Como
profissional da imprensa, presenciei inúmeras situações desafiadoras, curiosas
e gratificantes. De igual forma, ocupei posições privilegiadas para presenciar
fatos, conhecer personagens e obter informações de bastidor também na condição
de assessor parlamentar ou profissional de Relgov. Os desafios que enfrentei
são os próprios da profissão, ou seja, os relacionados à tarefa de atuar
estrategicamente visando maior e melhor exposição ao discurso do assessorado e
cooperar para que suas posições sejam bem-sucedidas. As técnicas de comunicação
e os instrumentos do jogo político se integram juntamente com as ditadas pelos
manuais de relacionamento institucional e de influência sobre decisões de
agentes do poder público.
Qual o case mais marcante e desafiador que tenha atuado?
Como disse, em sete anos de Senado, foram muitos os debates e interesses públicos que presenciei e, em certa medida, pude intervir. Ao deixar a redação do Correio Braziliense para integrar o time do senador capixaba Ricardo Ferraço não imaginava até quando ficaria no Parlamento. Quantos pronunciamentos antológicos presenciei! Quantas discussões de altíssimo nível acompanhei! Quantos talentos profissionais e da política conheci! A Casa da Federação tem quadro de consultores e assessores de excelência, um dos melhores do Brasil! Após mais de duas décadas como repórter e editor de jornal, abracei a missão cotidiana de redigir textos para mídias de terceiros e dos próprios mandatos, bem como discursos e artigos de #opinião, além de bolar estratégias políticas e de comunicação. Nós, jornalistas, exercemos o ofício de traduzir informações diversas para algo acessível a todos. E o serviço público é um bom exercício. Fora dos meios tradicionais, os profissionais de comunicação são testados em várias tarefas menos óbvias. No Legislativo também somos acessados para preparar apresentações de seminários, atuar no conteúdo de redes sociais, acompanhar reuniões importantes, para registrar ocorridos ou subsidiar participantes, e ainda ajudar na concepção e no debate de leis. Der 2015 a 2017, com o senador Ferraço, atuei no julgamento do impeachment de Dilma Rousseff, em sabatinas de ministros, na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investigou a parte brasileira do escândalo financeiro global conhecido por Swissleaks, na elaboração da reforma trabalhista, e em outros momentos de privilegiado posto de observação. É muito aprendizado. Depois, com o senador Lasier Martins (RS), apresentei e executei propostas de reestruturação e fortalecimento da ação digital do mandato, amparada em abordagens de engajamento. Como analista político, geri crises, propus ações com foco institucional e elaborei planejamentos. As sessões remotas na pandemia formaram um capítulo especial. Nesse período de servidor do Congresso, cooperando com repórteres e colunistas de rádio, tevê, internet e impressos, continuei praticando o olhar do jornalista, apurando fatos e bastidores. Também tive o prazer de produzir publicações com técnicas apreendidas na faculdade.
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