Senhora presidente Dilma Rousseff,
Mesmo tratando-a por presidenta, como prefere, essa concessão em nada mudaria os fatos nem a impressão que eu e a maioria dos brasileiros temos da senhora: a de alguém que abusou da confiança do povo.
Não vou mentir: a distância que se estabeleceu entre os seus atos e as suas palavras também levou à distância entre a senhora e dezenas de milhões de brasileiros que confiavam na sua figura de líder maior da República.
Esse seu iminente afastamento definitivo da Presidência e a perda de crédito com a população são frutos de uma ruptura decorrente da insistente mentira que a senhora e seu governo tanto usaram.
Em sua obra intitulada “Sobre a Mentira”, Santo Agostinho sublinha que os que mentem são inimigos de si mesmos. Isso porque a mentira é algo que sempre se volta contra o próprio mentiroso.
A reiterada preocupação do santo com esse tema, expressa em outros textos dele escritos há mais de 1,6 mil anos, parte da premissa de que nada justifica o grave ato de mentir. Nem o mais doloroso dilema.
Agostinho lembra que Jesus ensinou suas ovelhas a não se disfarçarem de lobos e pediu que elas desfizessem o mal com o bem. Para o santo, circunstância nenhuma leva uma mentira a ser tomada como bem, até porque a mentira conduz à autodestruição.
Com suas pernas curtas, a mentira caminha junto com a humanidade desde o seu começo, para tomar o lugar da verdade. No nível pessoal, ela serve para a autossatisfação e a ilusão alheia. No plano político, ela busca reescrever narrativas e subjugar a vontade geral aos desejos privados.
O mentiroso sacrifica a verdade para proteger-se da punição, para agredir o outro e para vingar-se. Quem mente também dá pistas sobre as suas falhas de temperamento, sobre aquilo que não enfrenta ou quer esconder.
Mesmo quando serve para suavizar as situações de tensão, a mentira não rima com a felicidade. Por quê? Por que a simples intenção de iludir alguém em causa própria implicará em lesões e mutilações para o relacionamento.
O nazista Joseph Goebbels, famigerado ministro da Propaganda de Hitler, dizia que “a mentira repetida diversas vezes se torna uma verdade”. Essa crença produziu a maior tragédia da História.
No Brasil, Macunaíma, de Mário de Andrade, mentia o tempo todo para se safar de qualquer problema. O personagem sem caráter nunca foi um herói. A verdade, aliás, despertava nele preguiça.
Saindo desses dois exemplos extremos, ouso citar o da senhora. Como presidente (ou presidenta), Dilma Rousseff será conhecida, infelizmente, por dar pouco valor às suas próprias palavras e por arruinar o Brasil por escolhas conscientes.
Ao tentar escamotear os fatos, buscou encobrir uma realidade terrível até o dia em que a verdade aflorou em meio ao caos escondido e fomentado por mentiras.
Tínhamos inflação controlada, superávit suficiente para diminuir a dívida aos poucos e crescimento econômico. Temos agora carestia, recessão e um Estado brasileiro falido após décadas de esforço para nos organizar.
As pedaladas fiscais, que nada mais são do que grandes mentiras, transformam em desconfiança e desemprego o entusiasmo de analistas e investidores.
Em 2014, para convencer os eleitores de que estava no caminho certo, a senhora gastou dinheiro que não tinha, só para ganhar a eleição. Conseguiu se eleger, mas levou o país a um atoleiro que só se aprofundou.
Em nome de ideias obsoletas, adotou a estratégia populista de dividir o país e se dizer vítima da conspiração de elites. Mas foi a senhora quem mais beneficiou as elites e oligarquias tradicionais. Tudo uma mentira só.
Enquanto disputava a reeleição, negou que seria preciso um ajuste fiscal para equilibrar as contas, rejeitou mudanças nas leis trabalhistas, previu que o país iria avançar em 2015, garantiu que manteria os níveis de emprego e atribuiu a expectativa de um cenário difícil ao pessimismo de alguns setores.
Mas diante dos rombos inevitáveis no Orçamento, anunciou um pacote de medidas que incluía alta e criação de impostos, corte de gastos e suspensão de programas sociais.
Em 2014, condenava as políticas de austeridade. Logo após o resultado das urnas e nos anos seguintes, tentou fazer o que condenava, por força da conjuntura e não das convicções. Mentiu antes e mentiu depois. E hoje não convence a mais ninguém, nem aos seus próprios aliados.
Os alertas de Santo Agostinho não poderiam ter tido melhor endereço do que o Brasil presidido por Dilma Rousseff. Governar com mentira para ganhar tempo, para sustentar incautas expectativas positivas e, depois, para cobrir outras mentiras é conduzir toda uma Nação para solo infértil, para dias de discórdia e para a desesperança nos corações mais receptivos.
Portanto, senhora presidente, este é o momento e o lugar de restabelecermos a verdade. Pois somente a verdade removerá os males deixados pela mentira que, lamentavelmente, a senhora e seu governo tanto recorreram e ainda insistem em proferir. A verdade nos libertará.
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