Ideias de Joe Santos
Acadêmico com carreira também bem-sucedida no meio empresarial,
o português José Santos, 64 anos, é escritor, ensaísta e professor de gestão
internacional da escola de negócios Insead, com sede em Fontainbleau, França.
Joe, como também é conhecido, atuou por mais de 20 anos como executivo de
multinacionais na Itália e Portugal.
Formado em Engenharia pela Universidade do Porto e
mestre em Ciências Administrativas pela Universidade de Londres, é coautor do
livro From Global to Metanational: How
Companies Win in the Knowledge Economy (2001), escrito em parceria com os
colegas Yves Doz e Peter Williamson.
A obra introduz o conceito de metanacionais, empresas que
desenvolvem seus produtos, bens ou serviços, ou criam um processo novo, a
partir de tecnologias, competências e conhecimentos dispersos pelo mundo. Segundo
o texto, consolidou-se um fenômeno que escapa às teorias tradicionais sobre
multinacionais, tanto na economia quanto na gestão estratégica. Metanacionais
como Huawei, Embraer, Nokia e Santander dominam o dilema entre global e local.
Os pesquisadores procuraram mostrar como uma empresa
poderia nascer pequena em vários países ao mesmo tempo, com as bases do seu negócio
espalhadas pelo mundo sem que um país predomine sobre outro na sua identidade.
Enquanto empresas já nascem metanacionais, outras
multinacionais conhecidas avançam na tendência por meio de novas divisões,
casos da IBM e da HP. O objetivo é buscar liderança global sem se preocupar com
a nacionalidade da matriz. Para isso, a produtividade passou a ser encarada
como demonstração objetiva da qualidade da gestão. Pela mesma lógica, se não
houver condições em determinada economia nacional para executar um plano, os
gestores devem, simplesmente, fechar a unidade ou produzir fora.
Essa postura estimula a produção por terceiros
(outsourcing) cuja produtividade se revela superior. O desempenho da
metanacional é a expressão da competência da organização em criar valor a
partir de recursos distantes, e não a partir do seu entorno, das capacidades e
dos mercados que a rodeiam. É isso que a torna metanacional, posicionada além
dos países, em busca de fatores ideais de produção espalhados pelo mundo, numa
perspectiva do mercado global.
A essência da estratégia das metanacionais está em sua
capacidade de conjugar e orquestrar conhecimentos dispersos no mundo. Por isso
mesmo têm grande facilidade em subcontratar a produção e outras operações, levando
a investimentos muito menores e a resultados acelerados.
O professor vê a globalização das empresas como um
processo irrefreável, embalado pela expressiva redução de custos logísticos e
de comunicações nas últimas décadas. O ambiente favorável ao rompimento de
barreiras ao fluxo de mercadorias, de serviços, de capitais, de conhecimento e
de pessoas levou à consolidação de uma nova ordem econômica com regras
próprias. É a economia do conhecimento.
As principais consequências disso são o aumento da
competição empresarial em escala mundial. E o contexto das metanacionais e das
chamadas cadeias globais de produção favorece o empreendedor intimamente ligado
à inovação, pois conseguem levar novos produtos, serviços e métodos ao mercado
global.
Esse empreendedor compreende o mundo como o lugar onde
pode encontrar as coisas de que precisa para atingir a excelência, não se
restringindo às coisas que tem em volta. Aqui vale mais a qualidade que o
tamanho. As empresas inovadoras são as que conseguem reunir elementos
inovadores e explorar vantagens competitivas mundo afora.
Neste sentido, as aglomerações industriais (clusters) são
fundamentais e a vantagem competitiva e o lucro das metanacionais resultam de
sua capacidade de conectar vários clusters afastados. Em resumo, a característica
fundamental das operações da metanacional é “pensar local e agir global”, o
contrário da norma das multinacionais tradicionais. A autossuficiência deixou
de ser um valor em si.
A Nokia é o melhor exemplo de companhia nacional que
se tornou metanacional. Era um conglomerado de empresas, com uma história de
mais de 100 anos, praticamente desconhecido fora da Finlândia até os anos 1980.
Sua liderança global, batendo a Motorola, se deveu à gestão que conseguiu
combinar e multiplicar tecnologias e mercados espalhados. Sem se prender à
geografia, ganhou o mundo.
A internacionalização de uma empresa é mais complexa
do que a internacionalização dos seus negócios, pois requer integração de
pessoas de vários povos. Curiosamente, a globalização não leva à padronização.
Quanto mais global for o mundo, mais as diferenças contam. O resultado desse
processo é a interdependência dos países.
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