Pegada hídrica

Sílvio Ribas

Conceito hoje já consolidado socialmente, sobretudo nos países desenvolvidos, a chamada “pegada de carbono” (carbon footprint, no original) da indústria serviu de parâmetro para outro indicador politicamente correto, envolvendo o dispêndio de água em determinada atividade econômica. O movimento da “pegada hídrica” (water footprint), uma rede social de mesmo nome (www.waterfootprint.org), recebeu nos últimos três anos a adesão de milhares de empresas de diferentes portes e ramos de atuação, além de organizações não governamentais (ONGs), institutos de pesquisa e órgãos reguladores de todo o mundo.

Esses agentes se uniram em torno do embrionário mercado virtual da água. Para isso, a organização evidencia os usos múltiplos, diretos e indiretos, de recursos hídricos em todos bens de consumo. Com isso, busca sensibilizar consumidores e empresários para a perspectiva global de restrição da disponibilidade de água doce.

“O interesse da pegada hídrica começa no reconhecimento de que os impactos nos sistemas hídricos podem afetar o consumo humano e que escassez e contaminação de águas podem ser compreendidas e gerenciadas se levar em conta a produção e as cadeias de distribuição na totalidade”, diz o professor holandês Arjen Hoekstra, criador do conceito e diretor científico da rede social, em nota.

Nos negócios, a pegada hídrica é definida pelo volume total de água fresca usada direta e indiretamente para manter uma atividade produtiva. Ela tem dois componentes: a água que é aplicada na manufatura ou nas atividades de apoio e aquela que já vinha sendo empregada ao longo da cadeia de suprimentos usados. O indicador levará em conta a soma dos dois componentes.

A Coca-Cola, por exemplo, estabeleceu meta ousada para controlar o uso de sua mais elementar matéria-prima. Ela quer chegar a 2020 como a primeira empresa do mundo com “consumo neutro de recursos hídricos”, comprometendo-se a reverter à natureza cada litro de água retirado. Hoje, amultinacional gasta 300 bilhões de litros anualmente e calcula dobrar esse volume em dez anos. A empresa espera cortar um quinto do consumo total nas suas unidades com reciclagem e adotar outros processos, como coleta e armazenamento de água das chuvas. Uma das primeiras fábricas do grupo a adotar esse método sustentável é a da Matte Leão, inaugurada há três anos em Curitiba. Compromisso semelhante foi anunciado pela AmBev, em busca do selo azul.

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