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Mostrando postagens de junho, 2012

Síndrome do Patropi

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Débora Diniz Nem o corte da Selic, nem a redução dos juros bancários, nem as isenções fiscais, nada do que foi tentado até agora pelo governo para estimular a economia trouxe o resultado esperado. Ao contrário, os últimos indicadores dão forma a uma autêntica ave de mau agouro, como a linguagem popular denomina aqueles que anunciam desgraças. Com a Europa amargando uma grave crise e parceiros importantes, como a China, engatando a marcha lenta no comércio com o Brasil, analistas e instituições refazem os cálculos e já admitem um crescimento abaixo de 2% para 2012. A revisão só não encontra eco no comando da Fazenda, onde o discurso continua sendo o do crescimento pujante. Mesmo com um avanço de apenas 0,2% no primeiro trimestre, o titular da pasta, Guido Mantega, ainda mantém a previsão de um salto em torno de 4% no PIB de 2012. Para o ministro, tudo será diferente no próximo semestre — que começa em menos de uma semana, é sempre bom lembrar. Não é o que sinaliza o cenário, a começar p...

Buraco regulatório

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Agências no fio da navalha Sílvio Ribas Órgãos reguladores carecem de autonomia, recursos, legislação específica e funcionários para a fiscalizaçãoNotíciaGráfico Os recentes leilões de grandes aeroportos e a expectativa de novas concessões de infraestrutura à iniciativa privada, como grandes portos e o trem-bala, estão evidenciando as fraquezas das agências reguladoras. Criadas na segunda metade dos anos 1990 para coordenar o cenário descortinado pelas privatizações, sobretudo nos setores elétrico e de comunicações, as agências sofrem limitações de caixa e de pessoal, além de requerer respaldo legal para fiscalizar serviços concedidos e garantir contratos. Os órgãos ditos autônomos também já vinham sendo alvo de ingerência política do Planalto a partir da década passada. Como golpe adicional contra a sua credibilidade, menos de 5% das multas que aplicam são efetivamente recolhidas aos cofres públicos. Esste retrato de abandono está traçado em auditoria recém-concluída pelo Tribunal d...

Retrato agora completo

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Donos da verdade Sílvio Ribas A verdade incomoda e até dói, como alguns fazem questão de martelar. Mas ela também pode aliviar tensões represadas de uma nação inteira e ainda dar as pinceladas faltantes no retrato incompleto de uma pessoa. Foi bem isso o que ocorreu no último fim de semana, quando este jornal e o Estado de Minas tornaram pública, pela primeira vez, a mais importante parte das memórias do cárcere da presidente Dilma Rousseff. Enquanto ainda convivemos ao nosso redor com os que negam uma melancia de problemas pendurada no próprio pescoço, é um alívio saber que lembranças dolorosas da governante do país ensinam como a história nacional tem a ganhar com a verdade do cidadão. Seja por nobreza, por discrição ou por ambas as razões, Dilma não quis dar publicidade ao horror que sofreu. Ficou claro que nunca quis se apresentar como a vítima que é e muito menos a heroína, que também é. Essa atitude sincera da estudante mineira que virou presidente 40 anos após ser barbaramente ...

Disparates da adoção

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TODA CRIANÇA MERECE UMA FAMÍLIA Patrícia Garrote, advogada O artigo do mês de maio trouxe à tona a questão da adoção no Brasil, revelando a necessidade urgente de se esclarecer as regras desse sagrado instrumento capaz de dar à criança e ao adolescente o que mais desejam no mundo: uma família. Primeiro, vamos começar pela realidade brasileira: segundo dados do CNJ, existem atualmente cerca de 27 mil pessoas na fila de espera e menos de 5 mil menores disponíveis. Dos pretendentes, 24 mil são casais, 2,7 mil são mulheres e 300 são homens aptos a adotar imediatamente, devidamente habilitados pela Vara da Infância e Juventude de sua cidade. O descompasso é gritante e fere a razoabilidade. Não dá para entender como é que há mais pretendentes que crianças e mesmo assim a fila não anda. Enquanto isso, nos abrigos, menores em processo de destituição do poder familiar aguardam por longos dias e sofridas noites o momento de ter um lar para chamar de seu, com papai, mamãe, talvez irmãozinhos, mui...

As marcas de Dilma

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Em relato inédito, a presidente Dilma Rousseff contou detalhes de sessões de tortura às quais foi submetida na prisão em Juiz de Fora (MG), quando presa política, na década de 1970. Ela narrou seu sofrimento ao Conselho dos Direitos Humanos de Minas (Conedh-MG), que a ouviu em 2001, nove anos antes de ascender ao Planalto. O depoimento, divulgado pelo jornal “Estado de Minas” neste domingo, expõe um capítulo ainda pouco conhecido da militância política da petista: os castigos em seu estado natal, onde iniciou a trajetória subversiva. A literatura sobre a militância política da presidente registra fartamente informações sobre a passagem de Dilma pelos calabouços da ditadura no Rio e em São Paulo. No depoimento, ela lembra que foi colocada no pau de arara, tomou choques elétricos, apanhou de palmatória e foi submetida a socos. “Minha arcada girou para o lado, me causando problemas até hoje, problemas no osso do suporte do dente. Me deram um soco e o dente se deslocou e apodreceu”, relato...

Paul 7.0 é show!

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O mais bem-sucedido compositor de todos os tempos está vivo. E, na próxima segunda, dia 18, completa 70 anos. Em cinco décadas e meia de carreira, Paul McCartney colecionou todos os recordes. Segundo o Guiness, são 60 discos de ouro (entre 45 discos lançados) e 100 milhões de álbuns e singles vendidos, entre as quatro bandas que tocou e a carreira solo, iniciada em 1970. Paul emplacou nada menos do que 32 singles no 1º lugar da Billboard. Dificilmente haverá outro artista capaz de carregar números tão altos. Talvez seja impossível saber ao certo quantas bandas covers dos Beatles existem no mundo, mas estima-se que sua Yesterday - o único grande sucesso dos Beatles escrito por Paul, segundo John Lennon em sua canção anti-McCartney How do you sleep - já recebeu em torno de 2.200 versões. E mais de 7 milhões de execuções somente nas rádios e emissoras de TV dos Estados Unidos. Em 2012, a fortuna de Paul McCartney foi estimada em 475 milhões de libras em 2010. A sua holding, MPL Communicat...

Morte ao vivo

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Sílvio Ribas O ser humano é provavelmente o único bicho que sente prazer em contemplar o sofrimento alheio. Também não conheço outro animal, no sentido amplo da palavra, que mata como simples distração ou busca de autoafirmação. Se a gente se esforçar um pouquinho, consegue perceber essa característica em inúmeras situações cotidianas e fúteis. Mas o que mais me impressiona no momento é ver como os brasileiros estão obcecados em curtir, no sentido on-line da palavra, a tragédia do semelhante. Não faltam mostras no coliseu eletrônico em que se tornou a tevê e a rede mundial de computadores, em que milhões ovacionam o suplício dos jogados às feras e aos assassinos. É de estarrecer. A novela global do horário nobre vem exibindo crianças abandonadas no lixo e vilãs ameaçando a rival com uma enorme faca no pescoço. Programas vespertinos trocaram de vez o pudim pelo presunto, conforme reclamou o próprio Carlos “Ratinho” Massa, mestre da baixaria televisiva. Para completar, o crime que chocou...

Instantes de Brasília

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Não sou fotógrafo profissional, mas arrisco a sacar a câmera digital, geralmente do celular, quando vejo algo pitoresco, poético ou forte. Às vezes perco o instante certo, noutras o equipamento não ajuda. Selecionei aqui alguns desses olhares, na maioria caminhando para o trabalho ou do trabalho ou dentro do carro. A primeira é quase um anúncio de concurso público para jornalista. Depois, uma van clandestina com um passageiro indo com o traseiro na janela, em plena tarde da Esplanada. Nessa trinca aqui temos um elevador do Hospital de Base com uma denominação engraçada. Depois nos gramados do Palácio da Justiça, sede do Ministério da Justiça, um jovem desalentado, talvez com a falta de empregos para sua faixa etária. Cadê a justiça da placa? Por último, uma lojinha de artigos pet que poderia ter a legenda "acho que vi um gatinho". Não acha? Para fechar este pretensioso post com fotos próprias, a solidão iluminada do Palácio do Planalto em noite fria e enluarada, uma rara cham...

H20 for export

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Sílvio Ribas Consolidar o crescimento no mercado interno é também, segundo o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Água Mineral (Abinam), Carlos Alberto Lancia, a fórmula para conquistar outros mercados no exterior. Desde 2007 o setor se expande a um ritmo anual em torno de 10%, puxado pelas classes A e B. Ainda assim, o consumo anual per capita do brasileiro é considerado acanhado, de 45 litros, ante os 120 do europeu. Lancia salienta ainda a folga com as outorgas existentes para um salto na produção doméstica: o país engarrafa atualmente 8 bilhões de litros anuais de água mineral, enquanto suas fontes têm capacidade de fornecer o triplo desse volume sem riscos de afetar o equilíbrio de reposição natural dos aqüíferos. Livres de agentes biológicos e com produção totalmente fiscalizada, as regras seguidas pelo setor são iguais às da agricultura orgânica, sem insumos artificiais. Uma realidade distinta no mercado interno revelaria, por exemplo, que as águas minerais brasil...

Águas alternativas

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Sílvio Ribas Mesmo ainda longe de se configurar como commodity, produto de cotação internacional, a água reciclada já é um bom negócio para a indústria, se considerar que os volumes comprados da rede pública são de uso múltiplos, desde o mais nobre consumo humano ao mais vulgar. Por outro lado, as preocupações com escassez e confiabilidade da água pressionam a demanda e levam ao surgimento de águas alternativas com sede de beber na mesma fonte do mercado mineral. Muitos desses engarrafados foram forçados na Justiça a mudar o marketing. Primeiro foram as chamadas águas “mineralizadas”, com adição de sais. Depois foram as com sabor, que acabaram sendo classificadas como refrigerantes. E ainda estão tentando criar uma terceira categoria nesse grupo, as chamadas águas vitaminadas. Parte desse movimento também se explica como migração estratégica dentro do universo das bebidas com uma maior preocupação com os hábitos saudáveis. Toda a atividade econômica depende de água, umas mais, outras m...

SOS indústrias de Brasil e Espanha

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Sílvio Ribas A indústria espanhola vai buscar nas suas relações comerciais com o Brasil e em outras partes da América Latina saídas para superar as atuais dificuldades geradas pela crise econômica na zona do euro. Ontem em Brasília, durante a primeira etapa da viagem oficial do rei Juan Carlos I pela região, a comitiva de empresários que acompanha o chefe de Estado da Espanha foi recebida pela presidente Dilma Rousseff e assinou acordos de cooperação com a Confederação Nacional da Indústria (CNI). Em busca de negócios, o setor acredita que o intercâmbio tecnológico e a investida conjunta em terceiros mercados pode favorecer exportações de produtos manufaturados dos dois lados, consideradas essenciais para sair da estagnação. “O momento da economia espanhola é complicado”, resumiu Juan Rosell, presidente da Confederação Espanhola de Organizações Empresariais (Ceoe), equivalente à CNI. Segundo ele, a Espanha não tem interesse em reduzir a participação na economia brasileira e, pelo cont...

Pegada hídrica

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Sílvio Ribas Conceito hoje já consolidado socialmente, sobretudo nos países desenvolvidos, a chamada “pegada de carbono” (carbon footprint, no original) da indústria serviu de parâmetro para outro indicador politicamente correto, envolvendo o dispêndio de água em determinada atividade econômica. O movimento da “pegada hídrica” (water footprint), uma rede social de mesmo nome (www.waterfootprint.org), recebeu nos últimos três anos a adesão de milhares de empresas de diferentes portes e ramos de atuação, além de organizações não governamentais (ONGs), institutos de pesquisa e órgãos reguladores de todo o mundo. Esses agentes se uniram em torno do embrionário mercado virtual da água. Para isso, a organização evidencia os usos múltiplos, diretos e indiretos, de recursos hídricos em todos bens de consumo. Com isso, busca sensibilizar consumidores e empresários para a perspectiva global de restrição da disponibilidade de água doce. “O interesse da pegada hídrica começa no reconhecimento de q...

Águas vão rolar

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Sílvio Ribas A poluição, o crescimento urbano desordenado e as mudanças climáticas estão tornando a água doce do Brasil — recurso do qual o país é líder mundial — o protagonista de uma crescente contradição econômica. Especialistas, empresários e agentes de governo já temem o cenário de um apagão hídrico nas principais regiões metropolitanas até o fim desta década. Além do constrangimento na oferta, as projeções também mostram uma curiosa perspectiva, que está tornando a produção da água bombeada para torneiras num patamar até 60% mais caro do que o das garrafas PET de água mineral. A discrepância vem à tona quando se ignora a classificação, pelo sistema tributário, da água mineral como minério e não como item básico de consumo. Um dos temas na agenda da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável — a Rio+20 —, que será aberta na próxima semana no Rio de Janeiro, o encarecimento da água potável pressiona hoje o Estado a agilizar investimentos em infraestrutura de sa...