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Mostrando postagens de maio, 2023

As aventuras de Zé Curvelindo

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  Walter Mosley, escritor americano, ensina: a verdadeira existência de um povo está na literatura. Para os nascidos ou adotados por Curvelo (MG) esta existência começa a ser vivenciada graças a obras como “Causos, Contos & Prosa” (Elta Books, 2023). Sob o pseudônimo de Zé Curvelindo, o autor Geraldo Magela de Faria não só resgata a história de H maiúsculo, mas também capta a essência de uma cidade que é, nas palavras do escritor João Guimarães Rosa, a capital da sua literatura. Para esse nobre feito, Faria mergulha na vida cotidiana, cujos detalhes revelam povo único. Egrégora! Como personagem, Zé Curvelindo torna-se avatar tanto para o seu criador quanto para o leitor, levando-os numa jornada aos anos 1970 e 1980, e até mesmo antes disso, rumo a uma pacata Curvelo que se orgulhava de seus dotes culturais e culinários, da força de sua pecuária e dos seus festejos, além dos seus cidadãos ainda mais inesquecíveis. Não faltam exemplos para nutrir o orgulho dessa gente orgulhosa...

Curvelo na capa de Gazeta Mercantil

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Em junho de 2001, a Gazeta Mercantil, um dos mais importantes noticiários econômicos do país, trouxe reportagem curiosa assinada pelo saudoso repórter mineiro José Roberto Alencar que levou Curvelo (MG) para a capa do jornal, que deixou de circular 10 anos depois. A matéria destacava o inusitado patrocínio da bolsa eletrônica Nasdaq à tradicional festa de São Antônio em Curvelo (MG), cidade natal do diretor brasileiro da bolsa sediada em Nova York (EUA). Alencar, conhecido por suas habilidades investigativas e perspicácia, topou minha sugestão de pauta e a sua reportagem chamou a atenção do público, curioso em saber qual a relação entre a bolsa internacional e a festividade local. O improvável de uma quermesse tradicional como a de São Antônio, numa cidade do interior de Minas, ter patrocínio de uma instituição financeira ligada aos grandes negócios tecnológicos, mereceu saborosa redação do talentoso repórter.

Olhos de menino

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A criatividade capaz de transformar o mundo ao redor sempre nos acompanhou na infância feliz no sertão mineiro de Curvelo. Com os olhos de menino, enxergávamos muito além da imaginação, desafiávamos o óbvio e encontrávamos diversão em coisas cotidianas.   Como simples salão de beleza se tornava estação espacial? O grande secador de cabelo virava capacete de astronauta à espera de ser usado numa missão intergaláctica. O monjolo da fazenda se tornava com facilidade o poderoso martelo de Golias, capaz de derrotar qualquer exército imaginário. E o que dizer do moedor de carne manual preso à mesa da cozinha? Ele ganhava a forma de imponente tiranossauro de ferro, pronto para assustar presas invisíveis. A nossa inventividade infantil não tinha limites. Um inocente farinheiro de mesa podia facilmente se transfigurar em disco voador ou em tanque de guerra de madeira, tal qual concebido por Leonardo Da Vinci. Até a simples palheta de jogo de botão virava misteriosa hóstia preta. De igual ...

Meteorito pousado na cozinha

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Na cozinha espaçosa – do tamanho de um salão de baile – da augusta figura de Arminda Marques havia uma pedra. Uma pedra incomum, preta, lisa e ovalada, do tamanho de um pão de sal, que servia para escorar a porta do quintal. A peça lustrosa pesava uns seis quilos. Para uns, ela era puro chumbo encardido. Para outros, uma pepita grande de ferro lapidada. Mas na verdade ela era a ovelha negra das rochas tiradas do leito do ribeirão da mata. Pescada das águas meio esverdeadas, a pedrona veio parar como ornamento em um casarão da pequena e sertaneja Curvelo (MG). Era grande demais para servir de peso de papeis e, por isso, acabou virando um curioso calço da porta antes do fogão a lenha. Eis que, numa bela e quente tarde, aparece um especialista que se hospedou na casa de Minda, como a chamávamos carinhosamente. Ele se deparou com aquele objeto ao acaso e logo o chamou de tesouro. É um meteorito! Gritou o velho de terno de linho cáqui e gravata borboleta. Brilhosa, bonita, mas longe...

O coelho e a onça

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Depois de décadas trabalhando como jornalista e escritor, percebi que não havia guardado justamente o meu primeiro texto publicado. Era uma redação despretensiosa que fiz aos oito anos de idade, no segundo ano do ensino primário, como era chamado na época, lá na minha pequena e sertaneja Curvelo (MG). Em 1978, na Escola Estadual Interventor Alcides Lins, a minha professora, tia Amelina Carneiro Martins, gostou tanto da fábula que escrevi que resolveu datilografá-la e reproduzi-la com minhas ilustrações no mimeógrafo para distribuir para o restante da turma. Foi uma honra e um tesouro perdido. A história, intitulada “O coelho e a onça”, tratava da fuga de um pequeno, fofo e orelhudo personagem das garras e dentes afiados de uma grande onça faminta, utilizando sua agilidade e muita esperteza. Para escapar do ataque fatal, o coelho atraiu a predadora até o pé de uma mangueira e a desafiou a subir até o galho. Do alto da árvore, a onça preparou-se para saltar, mas acabou acuada por u...