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Mostrando postagens de setembro, 2022

O desapego dos bilionários

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Há mesmo uma contradição em ser muito rico – muito mesmo – e parecer totalmente desapegado dos luxos terrenos? Desde o começo deste século nos acostumamos a ver como mera excentricidade o estilo frugal de vida de famosos bilionários que encabeçam a lista da Forbes, alguns já perto de se tornar trilionários. Contudo, a trajetória de cada um deles e as novas bases da riqueza global explicam a sua postura avessa à tentadora extravagância. O desapego desses cujo patrimônio cresceu ainda mais na pandemia reflete a sua obstinação por levar novidade ao mundo e induzir comportamentos. Para tais figuras invejadas mais importante que ascender materialmente é impactar a vida das pessoas com seus empreendimentos. O valor somado das ações que têm das suas empresas com o que já foi convertido em bens próprios é só uma referência para mensurar o extraordinário desejo por ser determinante A explicação para os seus guarda-roupas simples e repetitivos, as suas casas “normais”, os seus hábitos comuns e a...

Nostalgia futura

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Dua Lipa, diva inglesa que se apresentou este mês no Rio e em São Paulo, tem só 27 anos e está no auge de uma carreira ainda promissora. A cantora de inegável talento despertou a minha atenção pelo seu raro nome de origem albanesa e pelo fato de o seu maior fã ter quase o triplo da sua idade. A paixão do americano Papa Richy, 80, revelada ao mundo em outubro de 2021 pelo TikTok, o levou a um encontro-surpresa com ela em março, armado pelo talk show de Jimmy Fallon, em Nova York. O entusiasmo do vovô ao dançar com a estrela significa mais do que um fofo encontro de gerações. O vídeo de Richy comemorando o ingresso de presente para o show de Dua em Miami e a sua performance com ela nos estúdios da NBC revelam um público idoso que não tem vergonha de apreciar contemporaneidades artísticas e que não está preso à nostalgia. A animação dele é a pura expressão do propósito de seguir vivíssimo. Num planeta onde as cabeças prateadas estão cada vez mais presentes, o mercado precisa acordar para ...

Promessas da primavera digital

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Antônio Carlos Jobim (1927-1994) anteviu o Google Translator lá no alvorecer dos anos 1970. Durante entrevista televisiva ao jornalista Roberto D’Avila o maestro contou que, depois de todo esforço próprio para fazer a versão em inglês (também antológica) do seu clássico Águas de Março (1972), sonhou ter um computador no qual palavras pudessem ser inseridas para, logo depois, se obter instantaneamente a tradução delas em qualquer outro idioma. Segundo ele, pouparia tempo e abriria novas possibilidades. Corta para 2022. Com tanta facilidade e rapidez agora para se acessar informações de todo tipo, pergunto se gênios criativos como Tom, cujas obras são louvadas em todo o mundo, seriam ainda mais prolíferos na atualidade? A resposta aparentemente óbvia é “sim, claro”. Mas receio que outra questão se ergue nestes tempos de conexão digital onipresente e universal: onde estão os artistas de genialidade ímpar florescidos na primavera digital? Eles existem, mas estão sendo submersos em realidad...

O sorriso de Gorbachev

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O risco de um inverno nuclear não está de todo afastado. Mas a chance de este derradeiro evento planetário ocorrer hoje é dezenas de vezes menor do que na primeira metade dos anos 1980. Ditaduras também persistem. Contudo, têm agora número bem menor que a média do século 20. Por fim, fome e subdesenvolvimento ainda castigam milhões, com a diferença de que há 30 anos essas mazelas não param de recuar, graças ao comércio globalizado, à acelerada inovação tecnológica e a uma maior conexão entre os povos. Esse quadro que começou a ser pintado em 1985 é bem diferente daquele da Guerra Fria, no qual duas superpotências – União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) e Estados Unidos – gastavam trilhões de dólares anuais para alargar o abismo a um passo da humanidade. Bastaria o simples aquecimento dos silos de mísseis balísticos, o cruzamento de fronteiras por tropas estacionadas ou um singelo aperto de botão para o dia seguinte nascer cinza, radioativo e desalentador. As páginas dos jo...