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Mostrando postagens de fevereiro, 2015

50 tons de marrom

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Por Sílvio Ribas A sordidez e a mesquinharia nas quais a política brasileira se afundou não podem nos tirar a fé nas instituições da República. Pelo contrário, nunca precisamos tanto da solidez delas. Mas também é impossível não admitir quão difícil está resistir ao desânimo gerado pelo noticiário negativo, com a revelação diária de prejuízos históricos ao país, decorrentes dos malfeitos de agentes do poder constituído, da má gestão de governantes e da irresponsabilidade com a coisa pública. Em meio a isso tudo, sobrevive o discurso infame dos líderes petistas, voltado à dissuasão e ao embuste, sem constrangimento ou mea-culpa. Como não ficar estarrecido quando se veem governadores nomeando secretários de Estado que respondem a inquéritos na Justiça, ou se ouve a presidente Dilma Rousseff, depois de dois meses de reclusão, contemporizando os crimes na Petrobras? E o que dizer de senadores votando em Renan Calheiros (PMDB-AL) para presidi-los em troca de gabinetes? Para piorar, aind...

Zona de desconforto

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Por Sílvio Ribas Estamos vivendo um momento amargo no cenário econômico mundial e, sobretudo, em nível nacional. Inflação alta, impostos subindo, escândalos corporativos à reboque da Petrobras e a certeza de dois anos (2014 e 2015) com a atividade produtiva em marcha ré dão ao país um retrato melancólico. Essa imagem já está levando muito investidor estrangeiro, como o megaespeculador George Soros, a se desfazer de boa parte dos seus papéis verde e amarelo mais importantes negociados em bolsa. Apesar de apreensões e incômodos trazidos pelo cenário adverso para governo, empresas e trabalhadores, constatar que a coisa não vai bem e pode ainda piorar deveria resultar numa lição definitiva. O país precisa amadurecer com os fatos ruins do dia a dia para não mais persistir em erros que os têm levado a trafegar entre o céu e o inferno nos últimos 20 anos. A economia não vai suportar mais tantos períodos de bonanças provisórias - ou mesmo ilusórias - seguidos de outros de sufoco. E qual é a...

Mais Noruega, menos Venezuela

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Por Sílvio Ribas O petróleo é o melhor combustível para governos demagogos e populistas e para ditaduras explícitas ou disfarçadas. No caso brasileiro, a simples constatação de reservas gigantescas em águas pra lá de profundas foi suficiente para o grupo político dominante à época ser tomado pela febre do ouro negro. Desatentos à gangorra dos preços internacionais e acompanhados de empresários inescrupulosos e caciques partidários corruptos, os líderes conduziram o país à maior tragédia corporativa de nossa história, protagonizada pela empresa-símbolo do nacionalismo brasileiro, a Petrobras. Tal qual uma maldição que assombra populações em diferentes partes do mundo, a riqueza extraída das profundezas compra apoios, abafa malfeitos, vende ilusões e aparelha Estados cada vez menos democráticos. A Rússia pós-soviética, com seu gás canalizado até o coração da Europa ocidental, fortaleceu um núcleo de poder movido a hidrocarbonetos e a velhos ardores patrióticos. Mais perto do Brasil,...

Pierrô hiper-realista

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Por Sílvio Ribas Incumbido de reconquistar a confiança do investidor privado e, ao mesmo tempo, reequilibrar as contas públicas, o ministro da Fazenda Joaquim Levy tem procurado agir e se expressar da forma mais objetiva e serena possível. Em vez de declarações recheadas de promessas irrealizáveis e de recados a adversários, como fazia seu antecessor, Guido Mantega, ele prefere traçar metas gerais e apresentar sem rodeios ao contribuinte uma fatura proporcional ao estrago deixado pelo primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff. O chefe da equipe econômica busca ser comedido e direto no discurso e nas atitudes cotidianas porque sabe que tem pouco tempo pra arrumar a gigantesca bagunça que encontrou. Além disso, ele sabe bem que as medidas impopulares para desfazer o caos econômico produzem um desgaste político enorme, ainda mais para um governo eleito e reeleito pela bandeira do combate à austeridade. De alegria contida, quase um Pierrô, Levy desbota sem dó o cenário colorido pinta...

Notas about Petrobras

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O estresse histórico vivido hoje pela sexagenária Petrobras tem a sua origem, curiosamente, em fatos que deveriam embarcá-la em sua mais virtuosa trajetória. A descoberta das reservas gigantescas do pré-sal em 2007 colocariam o país no clube dos maiores produtores e as inovações dessa desafiadora exploração consolidariam o destaque da estatal na tecnologia aplicada às águas profundas. Ponto. Além da entrada em cena da nova matriz energética global, deflagrada pela liderança dos Estados Unidos na obtenção de insumo fóssil mais barato, o gás de xisto, os colossais erros estratégicos cometidos pelos governos petistas transformaram ricas jazidas em uma maldição para o país, com custos sociais, econômicos e políticos ainda sem horizonte claro para serem pagos. Tudo começou com a ânsia do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva em colocar em marcha a estrada de progresso movida a petróleo profundo. Ao dizer, em agosto de 2008, que o país tinha ganho um “bilhete premiado” ao encontrar a...

Um tsunami às avessas

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Foi só cair um pouco de chuva neste verão escaldante do Sudeste e do Centro-Oeste para o Planalto e o governo paulista adiarem medidas mais efetivas para enfrentar as atuais e gravíssimas crises energética e hídrica do país. São crises gêmeas, debitadas na conta de São Pedro e que resultaram de série de erros de planejamento, de adiamentos de providências e, sobretudo, de informações sonegadas ao público em virtude do calendário eleitoral. O ano já começou sob o espectro do racionamento de água e de eletricidade, acompanhado da escalada nos preços das tarifas graças a custos represados e endividamentos de concessionárias. Mas as autoridades ainda preferem apostar tudo na sorte, postergando a solução racional e mais barata. Apresentar à população, com responsabilidade e em detalhes, o real quadro de dificuldades e pedir a colaboração de todos para atravessar um período transitório de sacrifícios, enquanto se busca alternativas duradouras, seria o mínimo que os governantes poderiam fa...

Conselho de milionário

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Por Sílvio Ribas De uma caixa empoeirada tirei um extrato bancário de setembro de 1992, com lançamentos que parecem surreais hoje em dia. A galera cuja infância se deu após a estabilização econômica não tem a mínima ideia de como lidávamos com naturalidade diante de números tão grandes para expressar valores tão pequenos. Foi divertido confirmar ali o meu salário milionário à época: Cr$ 1.605.961,53, com tudo já descontado na folha. Apesar de a cifra soar gorda aos ouvidos atuais, tal qual ganho de celebridade da tevê ou de craque do futebol, ela estava muito aquém de me dar vida de luxo. O Banco Central mostra que meu rendimento em cruzeiros naquele longínquo mês equivaleria agora a só R$ 1.481,19. Isso considerando a carestia oficial acumulada, em pouco mais de 22 anos, de 253.500%. Vivíamos tempos bicudos da Era Collor, quando o dragão inflacionário rompia todas as barreiras heterodoxas erguidas pelo primeiro governo eleito pós-ditadura. Só mesmo o Real acabaria com a bagunça mone...

Do poço ao posto

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Por Sílvio Ribas O angustiante noticiário econômico do começo de ano foi além do previsto, com 2015 revelando faturas ainda mais salgadas. Mas a cada anúncio de rombo nas contas nacionais, de calibragem de impostos e de prejuízo bilionário gerado pelos malfeitos na Petrobras, cresce a certeza de que as causas do nosso suplício podem ser resumidas numa só: o patrimonialismo. A velha e enraizada mazela brasileira confina o espírito republicano aos discursos vazios de autoridades, promove ousados crimes contra o patrimônio público e ainda nos açoita com carestia e subdesenvolvimento. Nunca antes na história deste país, a soma das ganâncias de empresários e políticos, que se revezam no papel de corruptos e de corruptores, produziu tanta manchete de jornal. No que se refere à Petrobras, a desenvoltura das parcerias público-privadas espúrias ao longo dos últimos anos coloca em dúvida os sistemas de controle. E a sua dissecação à luz dos fatos deixa muitos cidadãos honestos desalentados. ...

Previsões sobre o futuro dos jornais, segundo Tessler

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Nada de apocalipse, nada de assustar o mercado e os leitores. Os jornais em papel têm vida longa, desde que entendam que os tempos mudaram e que não se deve mais pensar como no século passado. Apesar da resistência dos três maiores jornais brasileiros – Folha de S. Paulo, O Globo e O Estado de S. Paulo – seguem cinco previsões com enormes chances de se tornarem realidade até, digamos, 2020. 1. Formato compacto – Quem acha que é mais agradável ler um standard do que um tabloide que compre ingresso para o Museu do Ipiranga e não saia de lá tão cedo. Experimente ler em um banco de praça, em dia de ventania. Esqueça. A mania dos jornais em formato standard (cerca de 56cm de altura e 30,5cm de largura) nasce na Inglaterra, há 200 anos. O governo britânico cobrava impostos pela quantidade de páginas, mas não pelo tamanho. Uma folha de um metro pagava o mesmo que 10cm. Logo os donos de jornais foram aumentando o tamanho das páginas, até que se padronizou o standard, depois eternizado pela...

25 formas de matar um jornal, segundo Tessler

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Resumo da palestra do jornalista e consultor Eduardo Tessler, diretor para o Brasil da Innovation Media Consulting Group, de Londres, durante o Congresso de Diários do Interior, em Brasília, 14 de maio de 2014. 1) Esquecer-se que o leitor é o verdadeiro dono do jornal. 2) Atrasar a edição para atualizar o jornal com a última notícia possível. 3) Não planejar bem as edições de fim de semana. Elas têm de ser especiais e inteligentes. 4) Não colocar os repórteres na rua. Fazer reportagem da redação, não! 5) Não interagir com os leitores. Ouça as sugestões de pauta do público. 6) Apostar tudo no novo projeto gráfico. 7) Contratar editores que não têm também uma visão gráfica da edição. 8) Pensar que fotógrafo e diagramador não fazem parte do processo. São jornalistas também! 9) Criar feudos on-line (o pessoal do on-line), dividindo a redação em duas equipes. 10) Achar que boato é notícia. Tem de comprovar, investigar. 11) Fazer uma redação low-cost e cobrar alto dessa equipe fraca. 12) ...