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Mostrando postagens de 2014

Deus menino

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Por Sílvio Ribas O mais famoso aniversariante de hoje nasceu e morreu pobre. Ele veio de uma região árida e conturbada, onde povos há milênios disputavam e ainda disputam territórios e soberania. Sem exércitos ou prerrogativas de qualquer poder constituído, foi ao encontro de todo tipo de gente, abraçou os mais oprimidos e deu novo curso à história da humanidade apenas fazendo breves e compreensíveis discursos. Até hoje, dois mil e tantos anos depois, as palavras de Jesus (Yeshuá) de Nazaré, o Cristo, desconcertam valentões e poderosos e levam quase todos a refletir sobre o que é realmente importante nesta vida. A principal novidade na comemoração deste ano da chegada ao mundo de um personagem tão incomum e revolucionário pode estar no comando da igreja cristã mais antiga e mais influente. O líder católico Jorge Mario Bergoglio, o papa Francisco, chega ao segundo Natal à frente do Vaticano com um histórico de feitos surpreendentes, proporcionados por uma postura inspirada justamente...

Provocações de ano-novo

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Por Sílvio Ribas O Congresso Nacional já apagou as luzes de 2014 e logo mais o Executivo e o mercado financeiro farão o mesmo. Como a grande expectativa em relação ao ano-novo gira em torno do tamanho e da variedade das “medidas drásticas” de ajuste fiscal a serem adotadas no começo do segundo mandato da presidente Dilma Rousseff, a agenda econômica de alcance estratégico vai ficar ainda mais no fundo das gavetas do Planalto. Isso porque a novela estrelada pelos cortes orçamentários e pelas sobretaxas não dará espaços para debates mais elaborados e desafiadores. Apesar dessa constatação óbvia, gostaria de deixar aqui algumas provocações para a equipe econômica e para os pensadores da academia. Alguns podem enxergar nelas sandices monumentais e outros podem até coçarão a cabeça. Acredito, contudo, ser mais importante não deixar que o caos do descontrole econômico e as respostas urgentes para debelá-lo nublem outras mazelas ainda mais enraizadas. A primeira provocação envolve o maior co...

Venina veritas

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Por Sílvio Ribas A gestão temerária da Petrobras, clara desde a assinatura de contratos em branco à compra bilionária de empresas com base em relatórios fajutos, colocou na berlinda não só a diretoria e o patrimônio da maior empresa do Brasil. Foi-se também embora com ela a credibilidade dos investidores em papeis brasileiros e a reputação dos órgãos de controle. E a lambança ainda maculou a bandeira histórica da esquerda de defesa da coisa pública. Nunca antes na história deste país um governo proclamou tanto o discurso contrário à privatização da Petrobras, em favor de maior presença estatal no setor energético. Contudo, foi a partir da era petista que argumentos dos privatistas ganharam o reforço de evidências de um patrimonialismo sem freio. A empresa teve o comando esquartejado entre políticos, seu caixa serviu a campanhas eleitorais e seu plano de negócios se abateu por orçamentos abusivos. Por fim, corruptos se enriqueceram na boa fé de contribuintes e poupadores. Entre os p...

Mestre Miura

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Por Sílvio Ribas A irresponsabilidade fiscal faz o mato tomar conta das calçadas, os delatores contam à Justiça detalhes sórdidos da corrupção na Petrobras e adolescentes criminosos gravam em celulares os cruéis assassinatos que praticam. Nosso cotidiano está marcado pelo pior lado das pessoas, no qual o apreço pela coletividade, a honradez e o respeito à vida inexistem. Em meio a tantos motivos para o desânimo e para se redobrar as orações por dias alentadores, ainda há figuras emblemáticas de Brasília que precisam ser exaltadas, até mesmo para servir de contraponto a tudo aquilo que a maioria da população repele. Sinônimo de judô na capital, Takeshi Miura é um dos campeões locais do bom exemplo. O Sensei – palavra japonesa para mestre e forma como é chamado pelos seus pares e amigos no esporte – está no Distrito Federal há 50 dos seus recém-completados 72 anos. Em sua vida repleta de prêmios e de admiradores, ele procura sempre promover não só a arte marcial, mas, sobretudo, valores...

A turma do U

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Por Sílvio Ribas A última vez que me encontrei com o então ministro da Controladoria-Geral da União (CGU), o baiano Jorge Hage, fiquei impressionado com a sua disposição em convencer pessoas comuns da importância de defender o bolso do contribuinte. “Dinheiro público é dinheiro do público”, repetia ele a todos com quem conversava, desde o mais humilde cidadão à mais alta autoridade. Na última segunda-feira, ele se despediu do cargo que ocupou por 9 anos, afirmando ter cumprido o dever, mas se queixando suavemente das limitações do órgão ligado ao governo federal dedicado ao combate dos malfeitos envolvendo servidores e prestadores de serviços ao Estado brasileiro. “Já dei a minha contribuição. Está na hora de descansar”, resumiu. A saída de cena de Hage, nos estertores do primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff, ocorre também no mesmo momento que a mais antiga e vultosa relação promíscua entre os setores público e privado vem à tona. Aquilo que estava claro apenas para a intuiçã...

Feliz 2017!

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Por Sílvio Ribas O país está à espera de importantes definições para a economia nos próximos dias, que terão de vir antes da posse da presidente Dilma Rousseff em seu segundo mandato. Primeiro, o Congresso Nacional terá de concluir o infame abandono da meta fiscal de 2014, o que pode ocorrer hoje no plenário da Câmara dos Deputados. Logo em seguida, é a vez do futuro ministro da Fazenda, Joaquim Levy, já em plena atividade no Palácio do Planalto, receber oficialmente o cargo das mãos de Guido Mantega. As respostas que advirão desses dois momentos, previstos até então para esta semana mas sem qualquer agenda precisa, são desde o mês passado objeto de forte especulação do mercado financeiro. A simples apresentação de Levy como novo chefe da equipe econômica já foi, contudo, suficiente para que investidores e empresários suspirassem aliviados. O nome dele é o selo de garantia para importante ajuste nas contas públicas, concentrado ao longo de 2015 e de 2016. Esse otimismo é proporcional ...

De onde vem meu nome

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Silvio Cesar já completou mais de 55 anos de carreira. Fez de tudo um pouco. Participou de quatro filmes como ator e compositor: “Na onda do Ye Ye Ye”, “Mineirinho - vivo ou morto”, “Essa gatinha é minha” e “Os boleiros”. Atuou em duas comédias musicais: “Arco Iris” e “O teu cabelo não nega”. Escreveu e gravou mais de 250 canções, que foram regravadas por importantes intérpretes da MPB, como Roberto Carlos, Elis Regina, Emílio Santiago, Gal Costa, Nana Caymmi, Alcione, Elizeth Cardoso, Altemar Dutra, Martinho da Vila, Leny Andrade, Angela Maria, Nelson Gonçalves, Cauby Peixoto, Pery Ribeiro, Tim Maia, Os Cariocas e muitos, muitos outros. Gravou duetos com Tom Jobim, Chico Buarque, Diogo Nogueira, Jorge Vercillo, Leny Andrade, Emilio Santiago, Hermeto Paschoal, Jane Duboc, Altay Veloso, Pery Ribeiro, João Nogueira, entre outros. Na televisão, atuou em todos os canais. Desde a lendária TV Tupi - onde comandou o programa "A Grande Parada", passando pela TV Rio, TV Excelsior, TV ...

Saída norte

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Por Sílvio Ribas A presidente Dilma Rousseff e os seus auxiliares têm deixado transparecer algo que poderá se confirmar na próxima mudança radical de rumos no segundo mandato dela em relação ao primeiro. Depois de colocar um economista de perfil ortodoxo no Ministério da Fazenda, para restaurar o equilíbrio das contas públicas e a credibilidade do país nos mercados financeiros, o próximo gesto ousado do Planalto deve envolver os Estados Unidos. Razões muito concretas e objetivas apontam para a necessidade da reconstrução da normalidade nas relações bilaterais, prejudicadas pelas rusgas diplomáticas, e, mais do que isso, aprofundar acordos com foco no aumento das exportações brasileiras para o maior mercado consumidor do planeta. O momento não poderia ser mais desejável para isso, com a locomotiva chinesa perdendo fôlego e os dois principais importadores do país na região, Argentina e Venezuela, em grave crise. O recuo nas cotações dos preços de matérias-primas, carro chefe das vend...

Estrela solitária

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Sílvio Ribas Tal qual um alcoólatra recém-recuperado que acabou se afundando na recaída, o governo brasileiro está iniciando a sua ida para a clínica de reabilitação. O caos fiscal que consumiu a credibilidade do país, que deu resistências à inflação e que desmoralizou até o slogan oficial contra a pobreza deverá exigir dois anos de tratamento, até que o paciente seja considerado apto ao convívio social. Para percorrer o caminho de volta à normalidade, a presidente Dilma Rousseff já confiou ao futuro ministro da Fazenda, Joaquim Levy, a chave do armário das bebidas. Sob a alcunha de mãos de tesoura, o novo chefe da equipe econômica não terá apenas de fazer os cortes de gastos necessários à sobriedade das contas públicas. Mais difícil ainda será ter de, como diria Mané Garrincha, “combinar com os russos” qual o jogo deve ser jogado e, ainda, qual o placar desejado ao fim da partida. Botafoguense roxo, Levy recebeu a incumbência de não deixar que o país tenha a mesma sorte do seu time...

Cabeças no lugar

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Por Sílvio Ribas Ai que saudade dos tempos da União Soviética! Era com esse bordão, dito toda vez que algum disparate geopolítico era estampado na mídia, que eu arrancava sonoras gargalhadas do jornalista mineiro Dídimo Paiva. Mestre em cobertura internacional e referência maior da luta dos profissionais da imprensa no Brasil pela liberdade de expressão e de organização durante a ditadura militar, o mais experiente colega de redação do Estado de Minas era também o meu mais ilustre cúmplice na crítica à gradual perda universal de paradigmas. A comunidade de nações perdeu desde a última década do século passado a sua bússola ideológica, cujos ponteiros sempre estavam apontados para o Leste (comunista) e o Oeste (capitalista). Mais do que isso, o pensamento da humanidade era moldado em polos distintos de conservadorismo e contestação, de cujo embate se chegava a avanços nos direitos civis. Até mesmo a produção cultural do planeta confirmava outro paradoxo: em um mundo menos livre que hoj...

Um trio nos planos de Dilma

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Após dois dias de intensas conversas com os conselheiros políticos mais próximos, a presidente Dilma Rousseff chegou a um consenso em torno dos três principais nomes da equipe econômica de seu segundo mandato. Em reuniões com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com o governador da Bahia, Jaques Wagner, e com o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, ela definiu uma solução destinada a eliminar as tensões que ainda pairam sobre o mercado financeiro, geradas pelas incertezas. A trinca seria encabeçada pelo presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, como novo ministro da Fazenda, ao lado de Alexandre Tombini, que continuaria à frente do Banco Central (BC), e de Nelson Barbosa, como titular do Ministério do Planejamento. O anúncio pode ser feito até amanhã, dependendo só do sinal verde de Trabuco, que já havia declinado no mês passado. A convergência em torno do executivo se dá pelo bom relacionamento que já tem com Lula e Dilma — é o único dos banqueiros com quem ela conv...

Mãos sujas

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Por Sílvio Ribas Fotografias de momentos marcantes para um país ou mesmo de situações incomuns envolvendo autoridades costumam ter bem mais do que valor histórico. Algumas carregam o peso do sentimento de uma época ou da ideologia de um personagem. Esses são os casos, por exemplo, da famosa foto de Jânio Quadros com os pés enviesados ou do retrato icônico do guerrilheiro Ernesto Che Guevara. Com a dominância do marketing político e da difusão da mídia eletrônica, esses registros memoráveis de fotógrafos, fruto do esforço profissional e de bênçãos do acaso, passaram a ser intencionalmente buscados e até obsessivamente produzidos para atender a propósitos pessoais e partidários. Ocorre que, ao buscar transformar um gesto ensaiado em uma imagem destinada às manchetes de jornais e ao imaginário popular, ocupantes do poder podem acabar caindo em armadilhas também simbólicas, levando a quadros trágicos e irônicos. Para mim, o exemplo acabado desse disparate são as poses que o então presid...

Cadê o novo ministro da Fazenda?

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De novo a novela da sucessão de Guido Mantega, ministro da Fazenda. A eventual sujeição de Dilma Rousseff aos palpites de terceiros sobre quem escolher para comandar a economia seria consequência do fato de ela ter saído da eleição presidencial com placar apertado, uma diferença de votos válidos abaixo de 3,5 milhões. Pela primeira vez em muito tempo a oposição promete ser atuante no Congresso e o maior partido da coalizão, o PMDB, segue criando dificuldades ao governo. Isso tudo sem falar dos desdobramentos dos escândalos da Petrobras, que estão bombando, mas são só o começo. Dilma não aceitará a ideia, muito forte nos mercados, de que Meirelles entrará para o governo como o "salvador da pátria". O engenheiro civil pós-graduado em Harvard e ex-executivo sênior do extinto BankBoston elevou as taxas de juros para 26,5% logo após a posse de Lula em 2003. O ex-presidente do Banco Central (BC) de 2003 a 2010 foi antes presidente global do FleetBoston e do BankBoston. “Temos de aj...

Cohabitation à brasileira

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Por Sílvio Ribas Uma eventual nomeação de Henrique Meirelles como ministro da Fazenda do segundo mandato de Dilma Rousseff (2015-2018) seria a opção consciente da presidente por viver uma situação semelhante à encarada por François Miterrand em 1986. Em virtude de um sistema presidencialista atípico, no qual o Parlamento também se faz presente no Executivo, o líder histórico da esquerda francesa foi obrigado a conviver em seu governo com um jovem primeiro-ministro de centro-direita, Jacques Chirac, fruto da maioria congressual. Além de não contar com a simpatia de Dilma, Meirelles representa tudo o que ela sempre negou em termos de política econômica. No Brasil, o fenômeno batizado pelo ex-premiê francês Raymond Barre de cohabitation (coabitação) se repetiria por caminhos tortos e com certa dose de esquizofrenia. A presidente de pensamento desenvolvimentista, discípula número um da professora Maria da Conceição Tavares, cumpriu até agora o efetivo papel de comandante da economia, d...

Descompromisso oficial

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Por Sílvio Ribas Refeições hospitalares deixam de ser entregues a pacientes graves, motoristas e trocadores do transporte de massa tumultuam o trânsito ao cruzar os braços e caminhões da coleta de lixo deixam de circular pela cidade, gerando transtornos. De um dia para o outro, serviços essenciais custeados pelo contribuinte são suspensos por atraso nos pagamentos do governo do Distrito Federal, cujo caixa parece ter ficado sem dinheiro suficiente a pouco mais de um mês da troca de comando. Muito mais do que dificultar a transição no Executivo, esse quadro melancólico revela um Orçamento desconectado com necessidades básicas da população. No Palácio do Planalto, a prova de descompromisso de quem cumpre uma missão delegada pelo povo com as suas obrigações constitucionais se repete. Também sem dar esclarecimento convincente à população, o governo admite só nos momentos finais de 2014 que não poderá entregar o prometido para o ano. Numa cena pintada com cores surreais, alheia à rotina ...

Dilma e o ajuste de contas duvidoso

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A então candidata à reeleição Dilma Rousseff, de discurso mais sintonizado com a desenvolvimentista histórica que sempre foi, parece estar travando duro debate íntimo com a agora presidente reeleita, instada pelos mercados a responder à série de desafios econômicos. Dentre todos os ajustes que terá de executar para evitar o pior e até mesmo para garantir a governabilidade até 2018, o que se apresenta como o mais complexo, abrangente e urgente é o de sanar o grave e crescente desequilíbrio das contas públicas. Nas entrevistas que vêm dando desde o resultado das urnas, Dilma promete ouvir as opiniões divergentes e impedir que se alarguem os rombos fiscais, sejam os conhecidos ou os só revelados agora. E mais, a petista insiste que fará o “dever de casa” para recuperar a compatibilidade entre receitas, em queda, e despesas, ainda em alta. Cortes no Orçamento Federal não uma novidade no Executivo, algo que é sempre anunciado por volta da véspera do Carnaval, para adequar a peça de ficção ...

Economia política

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por Sílvio Ribas O que levou a economista Dilma Vana Rousseff, presidente da República, a errar tanto na condução da economia brasileira? Quando estreou no comando do Executivo, em 2011, sua avaliação sobre o momento econômico do país estava corretíssima, a de que o país precisava (e ainda precisa) de novo motor para o progresso, trocando o protagonismo do consumo pelo dinamismo do investimento produtivo. Só que a a receita para alcançar o objetivo é que estava redondamente enganada, divorciada da realidade local e global. Por questão de fé ideológica e das prerrogativas do sistema presidencialista, o Brasil perdeu tempo e dinheiro. Dilma apostou todas as fichas na capacidade de o Estado liderar grandes projetos estruturantes, despejando recursos do Tesouro e dando papel destacado a novas e velhas estatais, a agentes públicos de financiamento e a órgãos federais de controle, todos contaminados pelas práticas de gestão discutíveis e pelo aparelhamento político. O resultado disso tudo ...

Slogan furado do governo

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Por Sílvio Ribas "País Rico é país sem pobreza", o slogan do atual governo sofreu constrangimento quarta-feira, com a divulgação de dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) sobre a população na pobreza extrema (indigência ou miséria). A frase é o mote da distribuição de renda que tem reduzido a desigualdade no Brasil, via instrumentos como o Bolsa Família. Mas a carestia e o baixo crescimento falaram mais alto. Após 10 anos de trajetória de queda, o número de miseráveis no país parou de cair. Em 2013, havia 10, 4 milhões de pessoas em lares com renda domiciliar per capita abaixo da linha de extrema pobreza, ante 10,1 milhões em 2012, avanço de 3,68%. O mais grave, me lembra um amigo, é que esses dados já estavam disponíveis desde setembro e não foram divulgadas sob a fraca e falsa premissa de que a lei eleitoral não permitia a divulgação em período de campanha. Teve até um diretor do Ipea que chegou a se demitir por causa disso. Para completar essa nota, le...

O Plano D

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Por Sílvio Ribas Chegou a hora da responsa para o governo. As disfunções da economia nacional, para não falar em crise generalizada, estão cobrando da presidente Dilma Rousseff uma reação clara, rápida e incisiva. Mas a gerente reeleita do Brasil ainda não revelou medidas que já deveriam estar engatilhadas, para serem anunciadas logo após o resultado do segundo turno. O cargo de ministro da Fazenda continua vago, sendo ocupado interinamente pelo seu titular desgastado e recordista de permanência. E as ações para tirar o país da estagnação associada à carestia sairão, nas palavras da própria petista, “de agora até o fim do ano”. O momento exigiria um Plano D, de Dilma, que foi quem comandou de fato a economia nos quatro anos do seu primeiro mandato e tem tudo para fazê-lo até 2018, só que de forma menos evidente. Esse pacote também seria conhecido pela letra inicial comum de cada pilar do seu tripé: dialogar, delegar e desanuviar. O primeiro deles está presente no discurso de vitória...

Um novo ciclo

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Os brasileiros consagram hoje 25 anos de plena democracia, manifestando o seu desejo em torno dos destinos da República. As tensões provocadas pelos embates ao longo da jornada dos presidenciáveis ficam pequenas diante do gozo da liberdade dos cidadãos escolherem. O direito de votar também sempre virá acompanhado da premissa de que ele será exercido com consciência e responsabilidade, pautado pelo interesse nacional, em favor da maioria. As instituições democráticas passarão por novo teste, com a esperança de que ele as aprimore e fortaleça. De toda forma, a vontade popular encerrará hoje um ciclo e abrirá outro. Um ano inteiramente novo vai surgir amanhã, um dia após o segundo turno das eleições presidenciais e da divulgação do seu resultado. Seja lá qual for o nome eleito pelos 140 milhões de eleitores para governar o país no período de 2015 a 2018, a vida nacional retomará o seu curso normal neste resto de novembro, mas sob novos ares. Mesmo com eventuais resquícios amargos de uma...

Pingo de razão

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Por Sílvio Ribas Melhor pingar do que secar. O velho ditado popular parece ser a resposta que a maior parte dos menos favorecidos tenderia a dar se cobrada sobre os desafios colocados pela disputa presidencial e pelas incertezas econômicas. O Brasil conviveu tempo demais com profunda exclusão social, que só começou a ceder após a estabilização da moeda, há 20 anos. A atual maioria remediada, emergida também graças à transferência de renda e aos avanços no salário mínimo, até sonha em melhorar de vida ainda um pouco mais. Mas continua achando melhor garantir “pingos”, vistos como favor de governo, a arriscar tudo em mexidas, mesmo que elas visem garantir a sustentabilidade desses mesmos ganhos. A classe também chamada de média e situada logo acima dos totalmente desvalidos até esboçou uma postura mais crítica em relação às mazelas históricas do intercâmbio entre os setores público e privado. O medo dos desdobramentos de ajustes urgentes acabou levando, contudo, a rápidos recuos d...

Seca sufoca setor elétrico

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Por Sílvio Ribas A perspectiva de secas mais longas e atrasos na estreia do período chuvoso pressiona o preço da eletricidade negociados no mercado livre e desafia a gestão do abastecimento no país. O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) reduziu a sua estimativa de chuvas que chegarão aos reservatórios das hidrelétricas neste mês, para patamares bem abaixo da média histórica, em todas as regiões, exceto o Sul. A estiagem do ano passado já levou as represas os menores níveis desde 2001, ano do racionamento. Mas as projeções apontam para um quadro ainda pior aos da crise de 13 anos atrás. Segundo relatório mensal do ONS divulgado ontem, as chuvas previstas para outubro nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, que concentram os principais reservatórios de hidrelétricas, deverão ser de 67% da média histórica para o período. Assim, o nível de suas represas deverá baixar dos atuais 22,09% para 19% ao fim do mês. Essa queda vem ocorrendo quase ininterruptamente desde junho de 2013, sendo...

Nós x Eles

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Por Sílvio Ribas A vida vale a pena pelos encontros que proporciona. Mas, lamentavelmente, em períodos carregados de incerteza e de conflagração como o do Brasil atual, a defesa apaixonada de posições pode levar até amigos íntimos a se enfrentar em público e de maneira desrespeitosa. É possível também que ressentimentos episódicos se avolumem ao ponto de desfazer antigos laços de afeto. Bastou serem confirmados os nomes dos dois candidatos à Presidência da República no segundo turno para que a polarização da política brasileira dos últimos 20 anos alvoroçasse ânimos e causasse danos ao bom senso e ao coração. As mobilizações espontâneas e estimuladas de gente atenta ao processo eleitoral, sobretudo na internet, chegam a assustar quem teme pelos desdobramentos trágicos e violentos do sectarismo. Mal as urnas esfriaram e cidadãos de todos os cantos e classes foram instados a declarar o seu “lado”, tal qual um estágio embrionário de uma fratricida guerra civil. A partir da resposta...

Clássico das Gerais

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Por Sílvio Ribas Os presidenciáveis que chegaram ao segundo turno ― Dilma Vana Rousseff e Aécio Neves da Cunha― são economistas nascidos em Belo Horizonte. Cada um foi filiado a apenas dois partidos, sendo suas respectivas legendas atuais as responsáveis pelo Fla-Flu que caracteriza a eleição presidencial no Brasil desde 1994. Ela herdou o primeiro nome da mãe e ele, o do pai. As semelhanças dos dois adversários acabam aí. As compreensões antagônicas dos candidatos em relação aos problemas brasileiros e as propostas que cada um defende para solucioná-los vão transformar o pleito de 26 de outubro numa final de campeonato de futebol, entre os dois times de histórica rivalidade regional. O domingo que encerra a corrida pelo Palácio do Planalto será marcado pela partida entre a atleticana Dilma e o cruzeirense Aécio. A decisão será no tempo normal, sem prorrogações. Assim como nos duelos tradicionais de grandes times brasileiros, não faltarão analistas da imprensa para levantar estat...

Pibão é bão

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Por Sílvio Ribas Às vésperas do Natal de 2012, primeiro ano de seu mandato, a presidente Dilma Rousseff declarou que queria de presente um “pibão grandão” no ano seguinte. O tempo mostrou, contudo, que não basta a chefe do Executivo querer a melhora da atividade econômica para isso se concretizar. Também não adianta apelar para todo tipo de atalho para fazer o país alcançar o justo e merecido desejo de progresso material. Em vez de Pibão, vieram os pibinhos em série, que acharam campo fértil para se reproduzir. Quando se projeta a média de crescimento anual do Produto Interno Bruto (PIB), o governo Dilma deve ficar em 1,6%, a pior marca desde a conturbada gestão Fernando Collor (1990-1992). Semana passada, o Ministério da Fazenda, que sempre esbanja otimismo em suas previsões, cortou à metade a sua estimativa de expansão do PIB este ano, de 1,8% para 0,9%. Com isso, 2014 será o pior ano do atual governo na economia. Como a maré de notícias ruins coincidiu com o calendário eleitora...

Brasil em chamas

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Por Sílvio Ribas Os problemas do Brasil continuarão evoluindo em escala geométrica enquanto forem discutidos por bestas quadradas em mesas-redondas. O velho ditado serve como uma luva para avaliar como o país enfrenta hoje o maior cataclisma ambiental de sua história, marcado por gigantescos incêndios florestais e o angustiante desaparecimento de cursos e depósitos hídricos. Classificado pelas autoridades dos três níveis de governo como fatos episódicos e plenamente contornáveis, os danos causados pela estiagem e pelos erros de gestão dos mananciais deveriam estar no centro da campanha presidencial. Neste Fla-Flu eleitoral que colocou duas mulheres na disputa radicalizada para governar o Brasil pelos próximos quatro anos, as mazelas da economia e da corrupção envolvendo empresas públicas tomaram conta da pauta dos debates. Isso apesar de a primavera ter chegado acompanhada de péssimas notícias para o meio ambiente, como a de que a nascente do Rio São Francisco, em Minas Gerais, se...

País das erratas

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Por Sílvio Ribas O governo se comprometeu a cumprir este ano uma economia para pagar juros da dívida pública, o chamado superavit primário, de 1,9% do Produto Interno Bruto (PIB). Contra quem ousasse duvidar, o ministro da Fazenda Guido Mantega reafirmava a meta e ainda ridicularizava os "nervosinhos". Perto de iniciar o último trimestre de 2014, ele já está sendo obrigado a confirmar seus erros de projeções, expostos pelo mercado financeiro há tempos e admitidos pela sua equipe nos bastidores. Em seu relatório bimestral de receitas e despesas, divulgado ontem, os ministérios do Planejamento e o da Fazenda reduziram pela metade a estimativa de crescimento da economia, de 1,8% para 0,9%, ainda considerada otimista. A previsão para a inflação deste ano ficou mantida em 6,2%, mas a da receita líquida foi reduzida em R$ 10,5 bilhões, para R$ 1,084 trilhão. Nessa toada, as agências de classificação de risco deverão confirmar a perspectiva de rebaixamento da nota brasileira d...

Bons companheiros

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Três dos oito principais candidatos à Presidência da República já tiveram Luiz Inácio Lula da Silva como o seu principal mentor partidário e o seu maior inspirador na carreira política. Hoje críticos dele e da candidata petista à reeleição Dilma Rousseff, Marina Silva (PSB), Luciana Genro (PSol) e Eduardo Jorge (PV) romperam com o PT em momentos diferentes. Todos, contudo, buscaram novas agremiações por considerar que o presidente eleito em 2002 e reeleito em 2006 se tornou um mito popular divorciado do apreço pelos rigores éticos que manifestava o então líder sindicalista emergido das históricas greves do ABC paulista. A chegada ao poder mudou – ou apenas revelou – um homem cujas vaidades pessoais se sobrepuseram à trajetória da legenda que ele fundou, ajudou a estruturar e, por fim, conduziu à primeira vitória consagradora nas urnas, após três tentativas frustradas. O lulismo suplantou o petismo, abraçando pragmaticamente antigos rivais, negando princípios e fechando os olhos par...

Economia perdeu a governança

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A piora da perspectiva de crédito do Brasil, divulgada na terça-feira pela Moody’s, cristalizou a impressão de que a política econômica do governo se confinou no próprio buraco que cavou. A recessão na indústria, o investimento produtivo engavetado e a grave desconfiança do mercado após o forte intervencionismo estatal e o persistente malabarismo fiscal deram argumentos de sobra para a agência norte-americana de classificação de risco ameaçar a nota brasileira de rebaixamento mais adiante. Para o governo, a notícia não poderia vir em pior hora, a menos de um mês do primeiro turno da eleição na qual Dilma Rousseff disputa um segundo mandato presidencial. O sinal externo ruim para a solvência do país não se traduz só na aposta de persistência do baixo crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) nos próximos anos, em razão de problemas estruturais. Ele sugere também algo mais grave: uma crescente cautela do capital internacional em relação a se investir em títulos de dívidas de governo...