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Mostrando postagens de setembro, 2013

Restos a roubar

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Por Sílvio Ribas O Orçamento público, com merecido O maiúsculo, deveria ser tratado como algo sagrado. É esse dinheiro que completa a aposentadoria do velhinho morador do grotão, que abre leito numa UTI neonatal para o bebê da favela e que compra remédios caríssimos para o soropositivo pobre. Mas o uso legal (nos dois sentidos) dos recursos da União que restam após os salários dos servidores serem depositados e dos juros mensais da trilionária dívida com bancos serem pagos é diariamente ignorado. E autoridades de todos os escalões continuam a perpetuar práticas denunciadas há décadas. Numa mão, a má gestão e a falta de planejamento fazem escorrer suadas verbas recolhidas do contribuinte pelo mal cheiroso ralo do desperdício. Noutra, os corruptos posicionados dentro e fora da máquina de governo insistem em embolsar cada vez mais o que é de todos os brasileiros. Nem mesmo o humanitário programa Fome Zero escapou da avidez dos inescrupulosos. Graças a Deus que surgem, de tempos em te...

Efeito tostines, Lei de Gérson...

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Por Sílvio Ribas Certas frases que soltamos nas conversas de trabalho confirmam a nossa idade. Aquilo que pode soar estranho ou muito datado para colegas das novas gerações também evidencia referências ricas e saborosas que os profissionais quarentões carregam na mente. Entre essas lembranças estão os conceitos resumidos por simples slogans de comerciais de tevê dos anos 1970 e 1980. A propaganda presenteou sem querer os analistas com motes para tecer profundas análises, algumas de elevada complexidade filosófica, que vão muito além da simples missão de ser a alma do negócio. Vamos relembrar? “Por que pagar mais caro se o Vila me dá tudo aquilo de um bom cigarro?” Assim começa o texto do reclame do Vila Rica, de 1976, encenado pelo meio-campista Gérson, astro da Seleção tricampeã mundial que inspirou a conhecidíssima Lei de Gérson. Essa síntese do tal jeitinho brasileiro e da supremacia do interesse particular sobre o coletivo, argumentos presentes em tantos ensaios de sociologia, ...

Secessão fiscal

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Por Sílvio Ribas Não são os pibinhos, o dólar caro e a carestia que ti­ram o sono de governadores e prefeitos. O imbró­glio econômico que os inquieta mesmo é a antiga — e cada vez mais absoluta — desarmonia federa­tiva em questões tributárias. A concentração nos cofres fe­derais da montanha de recursos recolhida dos contribuin­tes não deixa apenas as administrações estaduais e munici­pais insatisfeitas. Ela também nutre conflitos que podem levar nos próximos anos a graves desdobramentos. Não é de hoje que gestores públicos alertam para o risco de rup­tura do pacto entre os entes da Federação. Até o caldo en­tornar, o cidadão sofrerá mais com indefinições sobre re­ceitas e competências de cada governo. Os sinais estão aí para quem quiser ver. Eles vão desde as dificuldades da maior cidade do país em rolar a sua dívida de R$ 54 bilhões à crescente redução no número de leitos no Sistema Único de Saúde (SUS). Enquanto todos os esta­dos pressionam o Planalto para renegociar seus passivos...

Voz embargada

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Por Sílvio Ribas A Justiça falha porque tarda. Em tempos de embargos infringentes nas manchetes de jornais e nas conversas de bar não é mais possível ignorar o fato de que o tal arcabouço jurisdicional precisa ser mudado. Leva-se tempo demais para que os juízes do Brasil decidam algo, certo ou errado. Desde a linguagem inutilmente empolada e prolixa até as mil formas usadas pela defesa de réus para alargar prazos e adiar sentenças, tudo desperdiça energia e paciência. A sociedade clama por um enxugamento dos infinitos recursos protelatórios e seus embargos "indigentes" para não ter a voz embargada pelas frustrações cotidianas nos tribunais. Ninguém pode ser contra o Estado de Direito e a ampla possibilidade de defesa de qualquer pessoa. Também não gosto da ideia de justiceiros de toga, atropelando decisões de pares e manuais do Judiciário. Mas o país não pode mais continuar sendo um fenômeno sociológico a deixar boquiabertos os estudiosos do Primeiro Mundo. Já estamos madur...

Inimigo no espelho

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Sílvio Ribas Quando vaidade e ignorância são as duas características marcantes da mesma pessoa, é normal esperar gestos ridículos dela. Mas o que tem me impressionado mesmo é que tais cidadãos estão colocando em risco a própria vida e até a de terceiros em razão do desejo de "evoluir" apenas no plano estético. Os Narcisos em apuros trazidos pelo noticiário são quase sempre verdadeiros embriagados pela própria imagem, que acabam se esquecendo da segurança pessoal, da coletividade e do outro. As vítimas de falsos médicos que recebem deles produtos sintéticos para inflar bumbuns e seios merecem atenção e piedade, mas também deveriam servir de alerta para as armadilhas tão comuns de ir ao encontro do sonho de beleza pagando fatura módica. O barato sem checar as reais credenciais do contratado sempre sai caro demais. São as tais loucuras em nome da beleza que viram monstruosidades lamentáveis. O drama começa quando pessoas associam integralmente a visão de saúde à de boa forma ...

Além do tripé

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Sílvio Ribas O pior malefício dos períodos de crise econômica — ou minicrises, como sugere o ministro da Fazenda, Guido Mantega — se abate sobre a visão de longo prazo. A urgência em superar desequilíbrios do momento inibe exercícios saudáveis de planejamento, com alvos nas gerações futuras. Resumindo: a angústia dos dias atuais não deixa espaço razoável para imaginarmos e, sobretudo, criarmos o amanhã. Ocorre que, sem pensar o Brasil nos próximos 20 ou 50 anos, postergamos a chance de fazer escolhas certas, deixamos de colocar empenho numa lista de objetivos estratégicos e, ainda, injetamos adrenalina demais em qualquer ação dedicada a driblar turbulências da hora. Prova disso é como o país reage à disparada do dólar. Contra a arrasadora tempestade que se avizinha, o Banco Central saca um guarda-chuva de US$ 100 bilhões. A estabilidade monetária deu à nação condições mínimas para sonhar com uma ascensão material. Mas o retrato de 2013 mais parece o de um ponto de interrogação no q...