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Mostrando postagens de julho, 2012

Em memória de Jefferson Péres

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Patrimonialistas e republicanos Por Sílvio Ribas Em uma das últimas entrevistas exclusivas concedidas pelo senador Jefferson Péres (PDT-AM), morto em 2008, tive a honra de ouvir dele que a luta ideológica entre esquerda e direita havia desaparecido no Brasil a partir da chegada de Luís Inácio Lula da Silva à Presidência. Ele explicava que, muito mais do que a queda do Muro de Berlim (1989) e o fim da União Soviética (1991), foi o pragmatismo da luta pelo poder o responsável pela divisão clássica de correntes políticas. Os arranjos cada vez mais confusos de siglas e de personagens, que antes antagônicos e depois viravam aliados e vice-versa, estavam evidenciando dois novos blocos de pensamento. Na visão daquele desencantado líder, os esquerdistas e os direitistas brasileiros estavam sendo rapidamente acomodados nos figurinos de republicanos e patrimonialistas (a maioria). Péres reconhecia que o termo republicano estava sendo desgastado pelas próprias autoridades, que se elogiavam por re...

Crônica de futebol, política e economia

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Minutos decisivos no jogo econômico Sílvio Ribas Se 2012 pudesse ser visto como uma partida de futebol, diria que o governo entrou no campo da economia com a obrigação de ganhar com diferença de um gol. O segundo tempo (semestre) já começou e o placar de um a zero em favor do adversário elevou a pressão da torcida e do banco sobre o time, que precisa partir para o ataque sem descuidar dos contra-ataques da especulação financeira e da perda de pique da China. A presidente Dilma Rousseff promete até virar o jogo, mas já admite que empate pode ser um bom resultado. Com isso, ficaria metade de seu mandato sem levantar troféus. Em uma equipe onde é, simultaneamente, treinadora, capitã e atacante, ela ainda transmite segurança, enquanto critica a retranca da seleção europeia e postura da cartola alemã Angela Merkel de apenas "administrar resultados". Recorri à metáfora futebolística, tão comum nos pronunciamentos presidenciais do corintiano Luiz Inácio Lula da Silva, para explicar ...

Cerco aos caminhoneiros

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Leis trabalhistas e de trânsito mais rigorosas e formas eletrônicas de pagamento ajudam a excluir das estradas profissionais menos capacitados e a reduzir acidentes O transporte rodoviário de cargas no Brasil abriga há décadas um personagem que pode estar com os dias contados: o caminhoneiro autônomo. O cerco a esse profissional, responsável por 60% dos volumes escoados pelas rodovias, começou há pouco mais de um ano, com o cadastro de caminhões e a crescente repressão ao uso de drogas estimulantes (rebites). Tais ações ganharam o reforço de leis duras, que disciplinam, respectivamente, jornadas ao volante e relação entre transportadoras e autônomos. Essas mudanças vêm acelerando a exclusão de 600 mil trabalhadores de um mercado que movimenta R$ 140 bilhões por ano, favorecendo as empresas do ramo. Os motoristas independentes, na maioria homens na faixa dos 40, mostram disposição em resistir às pressões que vêm encarecendo custos de sua atividade e derrubando seus ganhos, em torno de R...

A dama da infraestrutura

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Sílvio Ribas Encarar desafios é com ela mesma. Aos 66 anos, 25 no Congresso, a senadora e vovó de seis netos Lúcia Vânia (PSDB-GO) decidiu dar uma guinada na carreira parlamentar, até então dedicada às obras sociais e ao desenvolvimento do Centro-Oeste. A senhora elegante, que cultiva culinária e decoração como hobbies, assumiu este ano o espinhoso papel de fiscal dos principais investimentos no país, seriamente afetados pela corrupção e pela burocracia. Como presidente da Comissão de Infraestrutura (CI), uma das mais importantes do Senado, ela construiu rara tribuna para confrontar temas polêmicos, como a renovação de concessões do setor elétrico, as obras da Copa de 2014, o trem de alta velocidade, a privatização dos aeroportos e, mais recentemente, a crise no Ministério dos Transportes. Com trato cortês dispensado a todos, a oposicionista Lúcia Vânia presidiu número recorde de sessões da CI num semestre – 28 até o último dia 14, sendo 11 audiências sob forte pressão do governo. Para...

Notas norueguesas

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Sílvio Ribas Há quase um ano tive o prazer e a honra de pisar em solo norueguês e lá ficar por dez dias. Descobri ali mais do que um país e um povo, mas também um sistema econômico e uma organização social invejáveis. Escrevi e publiquei algumas reportagens sobre essa experiência gratificante, mas muito deixei para desdobrar outras informações colhidas mais adiante, seja em conversas com amigos, seja registrando em possíveis memórias impressas. Eis alguns temas que gostaria, ainda, de versar sobre a simpática e bela Norway (Noruega). FUTURO DA PESCA O aquecimento global e o mercado clandestino (predatório) estão mudando rapidamente o perfil e o mapa da indústria pesqueira no mundo. Atenta, a Noruega, segundo maior exportador, atrás só da China, investe em tecnologia, regulação e fiscalização ostensiva para garantir sustentabilidade no longo prazo. O primeiro desafio é manejar melhor os estoques de peixes, como bacalhau, que estão se mudando para mais perto das águas geladas do Polo Nor...

Agências reguladoras pedem socorro

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Os recentes leilões de grandes aeroportos e a expectativa de novas concessões de infraestrutura à iniciativa privada, como grandes portos e o trem-bala, estão evidenciando as fraquezas das agências reguladoras. Criadas na segunda metade dos anos 1990 para coordenar o cenário descortinado pelas privatizações, sobretudo nos setores elétrico e de comunicações, as agências sofrem limitações de caixa e de pessoal, além de requerer respaldo legal para fiscalizar serviços concedidos e garantir contratos. Os órgãos ditos autônomos também já vinham sendo alvo de ingerência política do Planalto a partir da década passada. Como golpe adicional contra a sua credibilidade, menos de 5% das multas que aplicam são efetivamente recolhidas aos cofres públicos. Este retrato de abandono estás traçado em auditoria recém concluída pelo Tribunal de Contas da União (TCU), que aponta sérios problemas de gestão, orçamento e transparência. “As agências não estão prontas para lidar com uma inevitável nova fase de...

É óbvio!

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Por Sílvio Ribas Das máximas que colecionei do empresário mineiro Wilson Brumer, minha preferida é "tudo que temos de fazer para ter sucesso nos negócios e na vida é fazer o óbvio. Mas como é difícil fazer o óbvio". Concordo inteiramente com o ex-presidente da Usiminas, que começou a carreira profissional como frentista de posto de combustíveis. E até admito ser perigoso simplificar demais conceitos e fórmulas, sobretudo em economia. Contudo, após mais de 20 anos escrevendo todo dia sobre temas nem sempre fáceis para a maioria, como juros e câmbio, ouso dizer ter chegado, enfim, ao tal óbvio que resta ao país fazer para adentrar o mundo dos desenvolvidos. A mãe de todos os problemas econômicos brasileiros está mesmo na crescente perda de competitividade da indústria, diante de um comércio internacional cada vez mais selvagem. Isso se deve ao tal custo Brasil, que contabiliza a infraestrutura capenga (sobretudo de transportes), impostos demais (uma infinidade de siglas), taxas...

Adiós, Mercosur

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Por Silvio Ribas Ao contrário do Brasil, o Mercosul nunca gozou lá de muita credibilidade na arena internacional e em quase nada ajudou seus fundadores a ganhar musculatura para competir no comércio global cada vez mais agressivo. Como desfecho trágico da trajetória conturbada desde o seu lançamento, há 21 anos, o bloco comercial inspirado no ousado modelo de integração europeia parece ter afundado de vez no meio de suas próprias confusões e paixões. Pelo menos nos quesitos liberdade e paz o grupo de países parecia ter amadurecido, se posicionando sempre contra as usurpações costumeiras das suas instituições no século passado. Mas seus erros na condução da economia também chegaram à diplomacia e à democracia dos Estados membros. Isso ficou evidente com os fatos gerados a partir da cúpula de presidentes da última semana, deixando a união aduaneira ainda mais longe de um futuro mercado comum e alvo fácil da desconfiança global. A punição ao Paraguai, que parecia ser uma condenação coleti...

Leilão do trem bala só em 2013

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Sílvio Ribas* São Paulo - O ex-presidente da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), Bernardo Figueiredo, deverá assumir em dez dias o comando da recém criada Empresa de Transporte Ferroviário de Alta Velocidade S.A. (Etav), responsável pela execução do projeto do trem bala ligando o Rio de Janeiro a Campinas (SP) e a São Paulo. "Aceitei o convite da presidente Dilma Rousseff e estou pronto para assumir o cargo", disse o executivo ao Correio. Segundo ele, sua primeira tarefa será concluir o projeto executivo do novo eixo ferroviário. "O ministro Paulo Sérgio Passos (Transportes) irá se reunir com minha equipe e demais atores envolvidos para decidir eventuais ajustes no modelo", revelou ele, ao admitir que houve atraso no andamento do cronograma de pelo menos quatro meses. Este foi o período em que ele ficou de quarentena após deixar a ANTT por não ter a sua recondução confirmada pelo Senado. Com isso, Figueiredo descarta a realização do primeiro dois leil...

18 anos do real

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O real completou 18 anos neste fim de semana, descrevendo o mais longo período de estabilidade econômica da República, com o mérito de ter tornado preços compreensíveis no cotidiano do cidadão e possibilitado um país menos desigual, distribuindo renda entre pessoas e regiões. A democracia se aliou ao real e prosperou com ele, relegando desordens políticas e monetárias a um passado cada vez mais distante. Prova do sucesso das metas de inflação, o câmbio flutuante e superavit primário, tripé construído no rastro do plano, durante os oito anos de governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), foi a sua continuidade nos quase dez anos seguintes das gestões petistas de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010) e Dilma Rousseff. Continua também a expectativa de o país ingressar no clube dos desenvolvidos. Ao alcançar simbolicamente a maioridade, a moeda forte e estável, que também criou as condições para avanços na área social, para o aumento da renda do trabalhador, para o florescimento do cons...