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Mostrando postagens de 2012

Múmias do Egito

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Não resisti à tentação (ou à maldição) de associar o ditador deposto do Egito, Mubarak, prostado na cama, com a recém examinada múmia do faraó Ramsés II. Duas histórias trágicas e ainda cheias de mistérios a serem desvendados.

Gotas de sinceridade

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Por Sílvio Ribas - Correio Braziliense - 20/12/2012 Como rachaduras em um gigantesco reservatório de cinismo, começaram a pingar gotas de sinceridade em áreas distintas do governo. O mais recente surto de realismo de uma autoridade, verbalizando o que a sociedade já sabia, mas o discurso oficial não reconhecia, também deverá se confirmar como contribuição para o país enfrentar seus problemas na dimensão que eles têm. Depois de o Planalto repreender várias vezes os que confirmavam a existência de apagões ou apaguinhos, o diretor-geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), Hermes Chipp, acabou indo além da inútil batalha semântica e atestou que a malha de transmissão requer, sim, investimentos bilionários para ser robusta de fato. E mais: o caixa federal não suporta a tarefa de dar fornecimento seguro de eletricidade para todos. Isso requer, na avaliação do responsável pela estabilidade da distribuição das cargas, custos adicionais à conta de luz. A declaração veio n...

Extra! Extra! O mundo acabou!

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PSi! Ô, psit! Como seria a manchete do fim do mundo, previsto para o próximo dia 21 de dezembro, sexta-feira? É uma brincadeira que venho lendo desde os tempos de faculdade de jornalismo. Pesquei uma lista mais recente da internet, com atualizações de veículos. Vejamos: Como Seria as Manchetes do Fim do Mundo The New York Times O MUNDO VAI ACABAR O Globo GOVERNO ANUNCIA O FIM DO MUNDO O Dia FIM DO MUNDO PREJUDICA SERVIDORES Folha de São Paulo SAIBA COMO SERÁ O FIM DO MUNDO(ao lado de um imenso infográfico) O Estado de São Paulo CUT E PT ENVOLVIDOS NO FIM DO MUNDO Zero Hora RIO GRANDE VAI ACABAR A Notícia PSICOPATA MATA A MÃE, DEGOLA O PAI, ESTUPRA A IRMÃ E FUZILA O IRMÃO AO SABER QUE O MUNDO VAI ACABAR! Tribuna de Alagoas DELEGADO AFIRMA QUE FIM DO MUNDO SERÁ CRIME PASSIONAL Estado de Minas SERÁ QUE O MUNDO ACABA MESMO? Jornal do Commercio JUROS FINALMENTE CAEM! Jornal dos Sports NEM O FIM DO MUNDO SEGURA O MENGÃO! Correio Braziliense CONGRESSO VOTA CONSTITUCIONALIDADE ...

nEVERmeyer

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Perdi recentemente, no espaço de poucas semanas, três grandes referências intelectuais e filosóficas de minha existência. O jornalista Joelmir Beting, guru do jornalismo econômico brasileiro, o poeta e ensaísta Décio Pignatari, que traduziu livros básicos de minha faculdade, e, por fim, o gênio da arquitetura e meu velho companheiro de PCBão, Oscar Niemeyer. Me lembro de quando, por volta dos 10 anos de idade, queria criar monumentos e prédios futuristas com traçado inspirado nele. Não resisto agora a reproduzir a muito reproduzida nos últimos dias frase daquele que tornou Brasília patrimônio cultural da humanidade. "Não é o ângulo reto que me atrai, nem a linha reta, dura, inflexível, criada pelo homem. O que me atrai é a curva livre e sensual, a curva que encontro nas montanhas do meu país, no curso sinuoso dos seus rios, nas ondas do mar, no corpo da mulher preferida. De curvas é feito todo o universo, o universo curvo de Einstein."

Três anos, duas manchetes

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Em novembro de 2009, a reportagem de capa de novembro da revista The Economist, apostando tudo no sucesso brasileiro, superando até a China, atual segunda maior economia global, nos próximos anos foi badalada como nunca pelo governo. Ironicamente, exatos três anos depois, a mesma publicação britância coloca no chão, em outros três artigos, as suas impressões sobre o Brasil. Chama a presidente Dilma Rousseff de intervencionista-chefe da economia e pede a cabeça do ministro da Fazenda, Guido Mantega, o mesmo de antes. Para a revista houve colapso da confiança e o Produto Interno Bruto (PIB), que cresceu apenas 0,6% no terceiro trimestre, metade do previsto por Mantega, é uma "criatura moribunda". O que mudou? A revista ou a realidade? A presidente Dilma, a única mulher e a única economista a governar o país, tem o diagnóstico correto das razões de nossa estagnação: a baixa produtividade dos trabalhadores, a baixa competitividade do ambiente econômico e das empresas e outros fa...

Confiança é tudo

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Por Sílvio Ribas Disembarkation. A palavra que piscava no painel eletrônico das esteiras de bagagem do Aeroporto Internacional Juscelino Kubistschek soava estranha. Mais do que isso, parecia o tradicional "enrolation" brasileiro para traduzir na marra termos em inglês para o português. Desconfiado como a maioria dos jornalistas — ainda mais sendo mineiro —, achei que houve algum desleixo do funcionário da Infraero responsável no caso, que merecia ser conferido e reportado. Mas bastou fazer uma rápida busca na internet momentos depois para revelar a minha ignorância sobre o termo e o sobre acerto da mensagem da gestão do terminal destinada a passageiros estrangeiros. Disembarkation é desembarque e não só o tradicional arrival, que informa sobre chegadas de aeronaves. Gastei essas linhas iniciais apenas para ilustrar o quanto é arriscado desconfiar de tudo, pois a fé nas pessoas e nas instituições é que faz a sociedade ser sociedade. O mesmo argumento serve para comprovar o ...

A potência vermelha

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Por Sílvio Ribas A troca de comando no poder central para os próximos dez anos, iniciada com o 18º Congresso do Partido Comunista Chinês (PCC), não está entre os assuntos preferidos dos cidadãos do país mais populoso do mudo, seja em encontros formais ou mesmo em jantares descontraídos. Com quase 90 milhões de filiados, a onipresente agremiação é o agente exclusivo das mudanças e o dono da festa. Tal qual na bandeira nacional da China — onde figura como a estrela dourada maior, em torno da qual gravitam outras quatro menores, representando o povo —, o PCC guarda as glórias da república popular, domina a vida cotidiano e planeja o futuro de todos. Mas apesar de a transição de governo na segunda maior economia do planeta não despertar debates e manifestações públicas como as conhecidas nas democracias ocidentais, as aspirações de 1,3 bilhão de habitantes não deixam de ser percebidas e até mesmo avaliadas pelas autoridades máximas. O orgulho da população com o crescimento econômico reco...

A Partilha

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Por Sílvio Ribas O último capítulo da novela do novo marco regulatório para a exploração do petróleo e do gás está se confirmando como o final triste de uma empreitada atrapalhada e malssucedida do governo. O desejo de transformar uma constatação geológica — a das reservas potencialmente gigantes da camada do pré-sal — numa plataforma histórica de desenvolvimento do país atrelada à estratégia de poder do atual grupo dominante exagerou na audácia e pecou na falta de avaliação política e técnica dos riscos da enorme mudança proposta. Os estragos parlamentares gerados por quatro projetos de lei são só parte do drama. Após quatro anos de discursos de palanque e de negociações tumultuadas no Legislativo, o resultado é a flagrante percepção de que o Planalto errou ao insistir em mudar o atual regime de concessões para o de partilha. As maiores vítimas dessa investida foram justamente os estados produtores, notadamente Rio de Janeiro e Espírito Santo. A votação da Câmara na terça-feira, mante...

Tudo a ver com o Brasil

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Por Sílvio Ribas As duas maiores economias do planeta — Estados Unidos e China — escolheram na semana passada seus líderes máximos para os próximos anos e os rumos que vão perseguir para enfrentar os graves desafios atuais. Juntas, respondem por cerca de 30% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial. E são dos dois maiores parceiros comerciais do Brasil e da maioria dos demais países. Além do peso que essas locomotivas têm sobre o nível da atividade econômica global, seriamente abalada por incertezas, sobretudo as vindas da Zona do Euro, elas têm particular importância para a frágil retomada brasileira. Acompanhar os resultados das urnas que consagraram o presidente reeleito Barack Obama e analisar os desdobramentos da eleição norte-americana para a economia mundial são essenciais para traçar previsões domésticas. Não menos importante é tentar enxergar o que a confirmação da escolha do futuro presidente Xi Jinping, recém-ungido pelo histórico 18º Congresso do Partido Comunista da China (...

Passaporte roubado

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Meu documento internacional se foi pouco depois de chegar ao Rio de Janeiro, via Sedex 10, interceptado por ladrões na madrugada do último dia 18 de outubro, uma quinta-feira. Nós, cidadãos brasileiros, não podemos mais ficar calados diante de uma insegurança desse tamanho e diante de tanta propaganda tão enganosa da Empresa de Correios e Telégrafos (ECT), enaltecendo a confiança de seu serviço de entregas expressas. As autoridades não podem mais fazer de conta que nada está acontecendo e os Correios não podem ficar apenas informando com grande atraso sobre os prejuízos dos que tiveram objetos postais roubados no trajeto até o destino. A indenização oferecida para bens não declarados é de pouco mais de R$ 70 (!). Gastei cerca de R$ 500 para confeccionar às pressas novo passaporte, na véspera de embarcar para o exterior. Só soube do ocorrido no rastreamento publicado pelo site da estatal 30 horas depois do infame roubo. Saibam todos do mundo que o portador do meu passaporte anterior, já...

Prêmio da Abinam

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VENCEDORES DO PRÊMIO FRATERNO VIEIRA DE JORNALISMO 1º LUGAR jornalista Sílvio Ribas do jornal Correio Braziliense de Brasília, com o título com o título: Água fica cada vez mais cara. Entrevistado: dr. Carlos Alberto Lancia, da Abinam 2º LUGAR os jornalistas Francisco Amorim e Itamar Oliveira do jornal Zero Hora de Porto Alegre com o título: De fotógrafo de casamentos a senhor das bombonas Entrevistado: Água Mineral Itati 3º LUGAR a jornalista Hara Alcântara do jornal Correio Braziliense de Brasília com o título: Olha a água mineral Entrevistado: Água Mineral La Priori

TNT: Tanure na TIM

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Por Sílvio Ribas A Comissão de Valores Mobiliários (CVM), órgão responsável pela regulação do mercado de ações, está investigando possíveis falhas na gestão financeira da TIM Brasil. A partir de denúncia encaminhada em junho pela JVCO Participações, empresa controlada pelo empresário Nelson Tanure e acionista minoritária da operadora de telefonia, a CVM apura se as reservas de balanço para cobrir riscos tributários, estimados em R$ 6,6 bilhões, eram insuficientes. Segundo a JVCO, esses valores se referem a autuações já realizadas pela Receita Federal e pelo Fisco de estados e municípios, cujos processos estão em andamento. Para cobrir esse impacto, a TIM provisionou R$ 126,53 milhões até 31 de dezembro de 2011. O acionista minoritário acusa a gestão do ex-presidente da TIM Brasil, Luca Luciani, de ter “reduzido progressivamente” as provisões, desde que assumiu o cargo, em 2009. Naquele ano, os valores correspondiam a 10,65% do risco estimado, recuando para 6% em 2010 e 2%, no an...

Fé no Estado

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Por Sílvio Ribas Os governantes, como as pessoas em geral, são mais bem definidos pelos gestos que pelas palavras. A presidente Dilma Rousseff, que fala muito menos que o antecessor, o mito popular Luiz Inácio Lula da Silva, apenas agora, perto de completar metade do mandato presidencial, deixou completo o retrato como política, não precisando mais de especulações de especialistas para explicar as razões de ela agir. Com continuidade política, ao defender o grupo do qual faz parte desde 2003, a economista Dilma ousou só empreender viés pessoal no comando da economia. Graças à nova etapa da crise econômica mundial e a diagnóstico do Planalto bem mais realista se comparado ao da era Lula sobre as dificuldades de o Brasil crescer de forma sustentável, a presidente colocou em marcha o plano para destravar o país. Apesar da clarividência sobre a escassez de infraestrutura, sobre o peso dos impostos na produção e sobre o custo elevado do crédito, Dilma coloca na mão forte do Estado ...

Feijão a R$ 6

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Sílvio Ribas Havia um tempo neste país em que trabalhadores comuns recebiam salários com muitos dígitos e pouquíssimo valor. Tão logo eram abonados, pegavam o suado dinheirinho e corriam às compras de itens de primeira necessidade para não serem ainda mais espoliados pelos constantes reajustes de preços. Não por acaso, o fim da inflação galopante — expressão muito comum nos anos 1980 — provocou uma revolução sem precedentes na história econômica brasileira. O cidadão comum deixou de fazer estoques mensais de mantimentos e passou a ir semanalmente ao supermercado, levando para casa muito mais que o básico. Tomou gosto pela variedade e até se premia de vez em quando com iguarias sofisticadas. A acomodação das terríveis pistolas de remarcar produtos mexeu até com a cultura popular e com a política partidária, fazendo da estabilidade uma conquista reverenciada, menos após a eleição de governantes nem tão austeros. Mais lúcido que muito economista ao avaliar a configuração do varejo, o empr...

Cadeira ocupada

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Por Sílvio Ribas Episódio recente promoveu uma convergência saborosa entre as biografias de dois políticos emblemáticos: o ex-presidente do Brasil Itamar Franco, morto há um ano, e o atual presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. Trata-se de momentos parecidos envolvendo líderes nacionais e os respectivos desafiantes em plena campanha eleitoral. Ambos os casos tiveram grande repercussão midiática apesar de terem ocorrido com a diferença de quase 40 anos entre um e outro. Semana passada, o candidato republicano na eleição presidencial norte-americana, Mitt Romney, deveria ter sido a estrela da convenção do partido, na Flórida. Mas saiu de lá ofuscado por um astro de Hollywood, que roubou a cena ao “debater” com uma cadeira vazia, usada para representar um ausente Obama. O ator e diretor Clint Eastwood discursou ao lado do objeto inanimado, dando margem a inúmeras piadas e críticas em redes socias e programas de TV. Em uma espécie de diálogo imaginário, o durão da telona brincou ao z...

Gloob! Yeah!

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Alguém, please, me corrobore! Semanas atrás ouvi o jingle do canal infantil Gloob, interpretado pelos ícones baianos Gilberto Gil e Ivete Sangalo, e não pude deixar de associar a canção daquela vinheta a um dos primeiros sucessos dos Beatles. Tenho quase certeza que ela remete a I Want hold your hand . Procede? Não estou falando de plágio. Mas o fato é que as músicas dos quatro fantásticos faz parte do imaginário popular universal e acaba influenciando tudo direta ou indiretamente. Só queria ficar mais tranquilo se souber que outro telespectador tenha feito a mesma associação "pelo ouvido". Yeah!

Sou inocêncio!

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Por Silvio Ribas Com quase um mês de julgamento histórico dos réus do mensalão no Supremo Tribunal Federal (STF), uma constatação segura é que sete anos de espera, desde a revelação do escândalo, ajudaram a desbotar a memória coletiva de episódios retratados pela mídia e já constantes em livros de história. O país acompanhou com espanto, indignação e críticas bem-humoradas uma série de notícias. O olhar atento e crítico da imprensa não deixou escapar situações hilariantes, algumas antológicas. O ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares vaticinou que o caso viraria piada de salão. Ele só não previu que as tais Piadas de Mensalão — também nome de um quadro do programa humorístico global Casseta e Planeta à época — levariam a uma crítica legítima e robusta contra a corrupção na política nacional. Por seu lado, não dá pra não rir de novo ao rever em reportagens e vídeos de 2005 personagens como o ex-deputado Roberto Jefferson. O homem-bomba que delatou e batizou o esquema depôs com olho roxo, ca...

Meu salmo preferido, o 37

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De David. Não te irrites por causa dos ímpios, nem invejes os malfeitores. Pois como a relva, em breve hão de secar, e tal qual a grama verde murcharão. Confia no Eterno e faze o bem; assim habitarás na terra e te nutrirás com a fé. Te deleitarás com o Eterno e Ele atenderá os desejos de teu coração. Orienta teus caminhos para o Eterno, confia Nele e Ele agirá. Ele exibirá a tua justiça como a luz, e o teu direito como o sol do meio dia. Silencia diante do Eterno e espera por Ele; não te exasperes porque prospera em seu caminho aquele que trama intrigas. Deixa a cólera e abandona a ira. Não te irrites, pois causarás mal a ti mesmo. Saiba que os perversos serão abatidos, mas os que esperam no Eterno, eles herdarão a terra. Ainda um pouco e não haverá mais ímpios; tu procurarás em seu lugar, porém não mais os encontrarás ali. E os humildes herdarão a terra e deleitar-se-ão com a paz completa. O perverso trama contra o justo e range seus dentes para ele. Mas o Eterno dele zombará, pois v...

Segunda carta aos brasileiros

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Sílvio Ribas Dez anos após Lula acalmar os mercados com o compromisso de não mexer nas bases da estabilidade econômica, agora é o momento da gestão petista fazer novo acordo com o setor produtivo, em favor da competitividade A Carta aos Brasileiros — documento assinado em junho de 2002 por Luiz Inácio Lula da Silva, então candidato de oposição à Presidência e líder nas pesquisas — foi um marco na história política brasileira. Diante da elevadíssima desconfiança do mercado financeiro e de potências estrangeiras, sobretudo os Estados Unidos, em relação às pretensões do maior líder da esquerda brasileira, Lula firmou compromisso de respeitar contratos nacionais e internacionais. O estresse com a perspectiva de vitória do PT colocou o risco-país nas alturas, o dólar havia ultrapassado R$ 4 e a inflação anualizada superava 30%. O último ano do governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB) foi marcado pelo esforço para conter a debandada de capitais, turbinando juros. O pânico gerado pela insegur...

Em memória de Carlos Tavares

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Funeral Blues Parem todos os relógios, desliguem o telefone, Evitem o latido do cachorro com seu osso suculento, Silenciem os pianos e com tambores lentos Tragam o caixão, deixem que o luto chore. Deixem que os aviões voem em círculos altos Riscando no céu a mensagem Ele Está Morto, Ponham gravatas beges no pescoço dos pombos brancos do chão, Deixem que os guardas de trânsito usem luvas pretas de algodão. Ele era meu Norte, meu Sul, meu Leste e Oeste, Minha semana útil e meu domingo inerte, Meu meio-dia, minha meia-noite, minha canção, meu papo, Achei que o amor fosse para sempre: Eu estava errado. As estrelas não são necessárias: retirem cada uma delas; Empacotem a lua e façam o sol desmanchar; Esvaziem o oceano e varram as florestas; Pois nada no momento pode algum bem causar. Tradução de Daniel Piza PS: Nosso colega e amigo Tavares morreu segunda-feira, em Brasília, aos 56 anos. Natural de João Pessoa, Carlos Alberto Tavares trabalhou em diversos veículos de comunicação impresso da ...

Em memória de Jefferson Péres

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Patrimonialistas e republicanos Por Sílvio Ribas Em uma das últimas entrevistas exclusivas concedidas pelo senador Jefferson Péres (PDT-AM), morto em 2008, tive a honra de ouvir dele que a luta ideológica entre esquerda e direita havia desaparecido no Brasil a partir da chegada de Luís Inácio Lula da Silva à Presidência. Ele explicava que, muito mais do que a queda do Muro de Berlim (1989) e o fim da União Soviética (1991), foi o pragmatismo da luta pelo poder o responsável pela divisão clássica de correntes políticas. Os arranjos cada vez mais confusos de siglas e de personagens, que antes antagônicos e depois viravam aliados e vice-versa, estavam evidenciando dois novos blocos de pensamento. Na visão daquele desencantado líder, os esquerdistas e os direitistas brasileiros estavam sendo rapidamente acomodados nos figurinos de republicanos e patrimonialistas (a maioria). Péres reconhecia que o termo republicano estava sendo desgastado pelas próprias autoridades, que se elogiavam por re...

Crônica de futebol, política e economia

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Minutos decisivos no jogo econômico Sílvio Ribas Se 2012 pudesse ser visto como uma partida de futebol, diria que o governo entrou no campo da economia com a obrigação de ganhar com diferença de um gol. O segundo tempo (semestre) já começou e o placar de um a zero em favor do adversário elevou a pressão da torcida e do banco sobre o time, que precisa partir para o ataque sem descuidar dos contra-ataques da especulação financeira e da perda de pique da China. A presidente Dilma Rousseff promete até virar o jogo, mas já admite que empate pode ser um bom resultado. Com isso, ficaria metade de seu mandato sem levantar troféus. Em uma equipe onde é, simultaneamente, treinadora, capitã e atacante, ela ainda transmite segurança, enquanto critica a retranca da seleção europeia e postura da cartola alemã Angela Merkel de apenas "administrar resultados". Recorri à metáfora futebolística, tão comum nos pronunciamentos presidenciais do corintiano Luiz Inácio Lula da Silva, para explicar ...

Cerco aos caminhoneiros

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Leis trabalhistas e de trânsito mais rigorosas e formas eletrônicas de pagamento ajudam a excluir das estradas profissionais menos capacitados e a reduzir acidentes O transporte rodoviário de cargas no Brasil abriga há décadas um personagem que pode estar com os dias contados: o caminhoneiro autônomo. O cerco a esse profissional, responsável por 60% dos volumes escoados pelas rodovias, começou há pouco mais de um ano, com o cadastro de caminhões e a crescente repressão ao uso de drogas estimulantes (rebites). Tais ações ganharam o reforço de leis duras, que disciplinam, respectivamente, jornadas ao volante e relação entre transportadoras e autônomos. Essas mudanças vêm acelerando a exclusão de 600 mil trabalhadores de um mercado que movimenta R$ 140 bilhões por ano, favorecendo as empresas do ramo. Os motoristas independentes, na maioria homens na faixa dos 40, mostram disposição em resistir às pressões que vêm encarecendo custos de sua atividade e derrubando seus ganhos, em torno de R...

A dama da infraestrutura

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Sílvio Ribas Encarar desafios é com ela mesma. Aos 66 anos, 25 no Congresso, a senadora e vovó de seis netos Lúcia Vânia (PSDB-GO) decidiu dar uma guinada na carreira parlamentar, até então dedicada às obras sociais e ao desenvolvimento do Centro-Oeste. A senhora elegante, que cultiva culinária e decoração como hobbies, assumiu este ano o espinhoso papel de fiscal dos principais investimentos no país, seriamente afetados pela corrupção e pela burocracia. Como presidente da Comissão de Infraestrutura (CI), uma das mais importantes do Senado, ela construiu rara tribuna para confrontar temas polêmicos, como a renovação de concessões do setor elétrico, as obras da Copa de 2014, o trem de alta velocidade, a privatização dos aeroportos e, mais recentemente, a crise no Ministério dos Transportes. Com trato cortês dispensado a todos, a oposicionista Lúcia Vânia presidiu número recorde de sessões da CI num semestre – 28 até o último dia 14, sendo 11 audiências sob forte pressão do governo. Para...

Notas norueguesas

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Sílvio Ribas Há quase um ano tive o prazer e a honra de pisar em solo norueguês e lá ficar por dez dias. Descobri ali mais do que um país e um povo, mas também um sistema econômico e uma organização social invejáveis. Escrevi e publiquei algumas reportagens sobre essa experiência gratificante, mas muito deixei para desdobrar outras informações colhidas mais adiante, seja em conversas com amigos, seja registrando em possíveis memórias impressas. Eis alguns temas que gostaria, ainda, de versar sobre a simpática e bela Norway (Noruega). FUTURO DA PESCA O aquecimento global e o mercado clandestino (predatório) estão mudando rapidamente o perfil e o mapa da indústria pesqueira no mundo. Atenta, a Noruega, segundo maior exportador, atrás só da China, investe em tecnologia, regulação e fiscalização ostensiva para garantir sustentabilidade no longo prazo. O primeiro desafio é manejar melhor os estoques de peixes, como bacalhau, que estão se mudando para mais perto das águas geladas do Polo Nor...

Agências reguladoras pedem socorro

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Os recentes leilões de grandes aeroportos e a expectativa de novas concessões de infraestrutura à iniciativa privada, como grandes portos e o trem-bala, estão evidenciando as fraquezas das agências reguladoras. Criadas na segunda metade dos anos 1990 para coordenar o cenário descortinado pelas privatizações, sobretudo nos setores elétrico e de comunicações, as agências sofrem limitações de caixa e de pessoal, além de requerer respaldo legal para fiscalizar serviços concedidos e garantir contratos. Os órgãos ditos autônomos também já vinham sendo alvo de ingerência política do Planalto a partir da década passada. Como golpe adicional contra a sua credibilidade, menos de 5% das multas que aplicam são efetivamente recolhidas aos cofres públicos. Este retrato de abandono estás traçado em auditoria recém concluída pelo Tribunal de Contas da União (TCU), que aponta sérios problemas de gestão, orçamento e transparência. “As agências não estão prontas para lidar com uma inevitável nova fase de...